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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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[Escrever texto]<br />

República; por que o passado só <strong>de</strong>veria cantar os mortos como veneração e <strong>não</strong> como<br />

forma <strong>de</strong> aproximá-los do tempo presente; por que traços <strong>da</strong> cultura africana,<br />

constitutivos <strong>da</strong> cultura popular, eram rechaçados <strong>da</strong> composição <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional;<br />

por que a noção <strong>de</strong> “genuinamente nacional” estava sempre liga<strong>da</strong> a “origem”, ou seja,<br />

ao índio, ao tupi, etc; por que o negro/escravo que aju<strong>da</strong>ra a construir o país era<br />

consi<strong>de</strong>rado como estrangeiro; porque a noção <strong>de</strong> nação <strong>de</strong>sejava reduzir o país a <strong>uma</strong><br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> ? E ain<strong>da</strong>, “on<strong>de</strong> estava a doçura <strong>de</strong> nossa gente” que eles e tantos<br />

outros supunham existir ?<br />

Os questionamentos apontados acima pela voz <strong>de</strong> Quaresma expressam a minha<br />

interpretação do texto. N<strong>uma</strong> compreensão <strong>da</strong> literatura como gran<strong>de</strong> narrativa , narrar é<br />

contar , nos ensina Ricoeur (1990: 213); mas um contar que se vale <strong>da</strong> invenção na<br />

tessitura <strong>da</strong> intriga, e que, pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> mimética , pela disposição dos fatos , realça o<br />

fazer h<strong>uma</strong>no, ao mesmo tempo que transgri<strong>de</strong> o discurso oficial que se vale <strong>da</strong> invenção<br />

na tessitura <strong>da</strong> intriga – herança sem duvi<strong>da</strong>s do pensamento aristotélico. Na esteira do<br />

mesmo autor interpretar é <strong>de</strong>cifrar o sentido oculto no sentido aparente, é aceitar que<br />

autor e leitor compartilhem valores, experiências e significados <strong>da</strong> <strong>obra</strong>, nesse sentido<br />

penso que é ain<strong>da</strong>, acolher a idéia <strong>de</strong> que a <strong>obra</strong> literária carrega um imaginário aberto a<br />

ser complementado pelo leitor, é pensar que a completu<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong> literária se realiza na<br />

relação <strong>de</strong>sta com o leitor. Assim, se Lima Barreto <strong>de</strong> forma magistral nos mostrara,<br />

pelaslentes <strong>de</strong> Policarpo Quaresma , muito <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m e <strong>da</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m no alvorecer <strong>da</strong><br />

República brasileira, também nos convi<strong>da</strong> a refletir sobre os significados <strong>da</strong>s práticas do<br />

personagem e sobretudo, dos sentidos que se escon<strong>de</strong>m por trás <strong>de</strong>las. Tecerei alguns<br />

comentários a respeito <strong>da</strong>quelas in<strong>da</strong>gações.<br />

Julgo que os fazeres e as orientações <strong>da</strong> República brasileira, no período em tela,<br />

foram <strong>de</strong>terminados por um conceito dogmático <strong>de</strong> progresso, herança <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

intelectuais portuguesas que se orientavam <strong>para</strong> <strong>uma</strong> forma concreta <strong>de</strong> pensamento. Para<br />

os republicanos, o progresso era em primeiro lugar, um progresso <strong>da</strong> h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong><strong>de</strong> em si, e<br />

<strong>não</strong> <strong>da</strong>s suas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e conhecimentos. Configura-se ain<strong>da</strong> como um processo sem<br />

limite, idéia correspon<strong>de</strong>nte à <strong>da</strong> perfectibili<strong>da</strong><strong>de</strong> infinita do gênero h<strong>uma</strong>no. Um

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