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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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polissema 7 2007 229<br />

nos <strong>de</strong>ixará nas páginas <strong>de</strong> Banhos <strong>de</strong> Cal<strong>da</strong>s e Águas Minerais ou <strong>de</strong> As Praias <strong>de</strong><br />

Portugal, entre outros.<br />

Medularmente pe<strong>da</strong>gógico, Ramalho Ortigão encetará, por conseguinte, e em<br />

diversos ensejos, campanhas panfletárias e inflama<strong>da</strong>s contra aquilo que consi<strong>de</strong>ra ser<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros atentados ao orgulho nacional e à integri<strong>da</strong><strong>de</strong> pátria. Num artigo, <strong>da</strong>tado <strong>de</strong><br />

17 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1870, e publicado na rubrica “Correio d’Hoje” do periódico<br />

Progresso do Porto, a sua recensão ao livro “La Literatura portuguesa en el siglo XIX,<br />

estúdio literário por D. António <strong>de</strong> Romero Ortiz”, Ramalho <strong>não</strong> po<strong>de</strong>ria ser mais hostil,<br />

reagindo acerbamente contra a crítica severa <strong>de</strong> Ortiz à nação portuguesa. Mor<strong>da</strong>z e<br />

objectivo, <strong>de</strong>nuncia a ausência, no estudo <strong>de</strong> Romero Ortiz, <strong>de</strong> autores tão importantes<br />

quanto Pinheiro Chagas ou Latino Coelho, e, em contraparti<strong>da</strong>, a referência a autores<br />

ilustremente <strong>de</strong>sconhecidos.<br />

Tal <strong>não</strong> seria sequer relevante, <strong>não</strong> fora a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s acusações feitas. Portugal,<br />

afirma Romero Ortiz :<br />

“<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>scido até à nuli<strong>da</strong><strong>de</strong> na or<strong>de</strong>m científica e literária, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sofrido<br />

o jugo sufocante <strong>da</strong> Inglaterra, acha-se sem exército, sem marinha, sem fortalezas, sem colónias,<br />

sem agricultura, sem comércio, sem artes, sem fazen<strong>da</strong>, sem costumes parlamentares e sem<br />

garantias <strong>de</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>para</strong> a sua menti<strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência. E isto é evi<strong>de</strong>nte, se o povo do<br />

marquês <strong>de</strong> Pombal, corroído pela imorali<strong>da</strong><strong>de</strong> administrativa, tem <strong>uma</strong> dívi<strong>da</strong> enorme e um<br />

<strong>de</strong>ficit crescente, se se acha no período <strong>de</strong> agonia, se estão conta<strong>da</strong>s as suas horas, que ganhou<br />

em se<strong>para</strong>r-se <strong>de</strong> Castela?...” 12<br />

A resposta <strong>de</strong> Ramalho revela tenaci<strong>da</strong><strong>de</strong> na argumentação e, até, um certo<br />

sadismo, aludindo à condição <strong>de</strong> Romero Ortiz, que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1866, se encontrava exilado<br />

em Lisboa, por ter sido acusado <strong>de</strong> conspirar contra a rainha Isabel II 13 :<br />

“Portugal ganhou com a se<strong>para</strong>ção <strong>de</strong> Castela a fortuna <strong>de</strong> <strong>não</strong> an<strong>da</strong>rem os seus filhos<br />

emigrados como o Sr. Ortiz por países estrangeiros, cuja digni<strong>da</strong><strong>de</strong> insultam nos ócios <strong>da</strong><br />

12 Correio d’Hoje, p. 119<br />

13 Cf. BLASCO, Pierre, 1974, p. 521

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