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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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polissema 7 2007 231<br />

Asensio, que atribui o “abaixamento <strong>de</strong> carácter”, a “dissolução <strong>de</strong> costumes” e<br />

“feal<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s mulheres” portuguesas à “inoculação <strong>da</strong> raça brasileira na nossa raça<br />

latina.” Tais injúrias merecem-lhe um chiste:<br />

“Esta notícia inespera<strong>da</strong> do nosso <strong>de</strong>sconhecido parentesco com o gentio indígena dos<br />

sertões americanos é <strong>uma</strong> revelação que vai pôr em sustos muitas famílias <strong>da</strong> rua Augusta, cujos<br />

chefes o Sr. Asensio surpreen<strong>de</strong>u passeando <strong>de</strong> tanga, com penas <strong>de</strong> arara na cabeça, e flecha ao<br />

ombro, à sombra dos coqueiros do Passeio Público.” 16<br />

Num outro texto, <strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1881 e publicado n’O António Maria,<br />

vemos Ramalho insurgir-se, <strong>de</strong> novo, contra os brados <strong>de</strong> União Ibérica, <strong>de</strong>sta feita<br />

vindos do outro lado <strong>da</strong> fronteira e pronunciados pelo polígrafo espanhol Marcelino<br />

Menen<strong>de</strong>z Pelayo. Agora o tom <strong>não</strong> é mais irado, <strong>não</strong> obstante Ramalho tenha em conta a<br />

gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s afirmações; prefere, to<strong>da</strong>via, divertir-se a ridicularizar o jovem escritor<br />

espanhol, ironizando com a sua juventu<strong>de</strong>. Com efeito, o “Pelayozinho”, como o trata,<br />

ousara afirmar, num banquete realizado por altura <strong>da</strong>s celebrações do segundo centenário<br />

<strong>da</strong> morte <strong>de</strong> Cal<strong>de</strong>rón <strong>de</strong> la Barca, em 1881, que havia “um só reino legítimo, o reino <strong>de</strong><br />

Espanha, e <strong>uma</strong> só casa reinante possível, a casa <strong>de</strong> Áustria” 17 Ramalho, que se<br />

<strong>de</strong>slocara à capital espanhola entre 24 e 29 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1881, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “Oficial <strong>da</strong><br />

secretaria <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia Real <strong>de</strong> Ciências”, <strong>para</strong> assistir às referi<strong>da</strong>s celebrações, trata o<br />

jovem escritor com um sarcástico <strong>de</strong>sdém, narrando o episódio com colorido<br />

balzaquiano. Com efeito, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Menen<strong>de</strong>z Pelayo ter pronunciado aquelas palavras,<br />

pre<strong>para</strong>vam-se já os portugueses, presentes no banquete, <strong>para</strong> “lhe puxar as orelhas já<br />

longas com que Deus o dotara”, mas encontraram o “menino”, “adormecido nos braços<br />

<strong>da</strong> sua ama, que lhe mu<strong>da</strong>va as fral<strong>da</strong>s, porque após um tal esforço <strong>de</strong> eloquência, o<br />

Pelayozinho se tinha comportado vergonhosamente” 18<br />

16 I<strong>de</strong>m, p. 81<br />

17 Farpas Esqueci<strong>da</strong>s, t. 1, p. 159.<br />

18 Farpas Esqueci<strong>da</strong>s, p.160

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