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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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era <strong>de</strong>scartar as propostas <strong>de</strong> cientificismo que reduziam constatações a leis, e criar <strong>uma</strong><br />

ciência sobre o Brasil que possibilitasse a transformação <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No contexto <strong>de</strong> sacralização e culto <strong>da</strong> figura do presi<strong>de</strong>nte-ditador e do sistema <strong>de</strong><br />

governo eram indispen<strong>sá</strong>veis à celebração os seus sacerdotes e altares. Assim, “<strong>uma</strong><br />

chama <strong>de</strong> oficiais subalternos e ca<strong>de</strong>tes” an<strong>da</strong>va a cercar o “ditador” e “os ca<strong>de</strong>tes <strong>da</strong><br />

Escola Militar formavam a falange sagra<strong>da</strong>” <strong>da</strong> República, possuindo “todos os<br />

privilégios e todos os direitos”, dos quais “abusavam (...) <strong>para</strong> oprimir e vexar a ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

inteira”, (Barreto, 1993: 75) na busca <strong>de</strong> impor a naturalização do po<strong>de</strong>r e do estadista.<br />

Contudo, Lima Barreto <strong>não</strong> vê os militares como grupo homogêneo, i<strong>de</strong>ntifica diferenças<br />

entre eles, alguns estavam realmente comprometidos com a or<strong>de</strong>m republicana e outros<br />

apenas com o exercício do po<strong>de</strong>r e as respectivas satisfações pessoais. Em <strong>uma</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

estilhaça<strong>da</strong> por prisões e execuções, “os militares estavam contentes, especialmente os<br />

pequenos, os alferes, os tenentes e os capitães”, pois <strong>para</strong> “a maioria a satisfação vinha<br />

<strong>da</strong> convicção <strong>de</strong> que iam esten<strong>de</strong>r a sua autori<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre o pelotão e a companhia, a<br />

todo esse rebanho <strong>de</strong> civis...” (p. 65). Para “ outros muitos” , “ havia sentimento mais puro,<br />

<strong>de</strong>sinteresse e sinceri<strong>da</strong><strong>de</strong>. Eram os a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong>sse nefasto e hipócrita positivismo que justificava<br />

to<strong>da</strong>s as violências, todos os assassínios, to<strong>da</strong>s as feroci<strong>da</strong><strong>de</strong>s em nome <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong><br />

or<strong>de</strong>m, condição neces<strong>sá</strong>ria, ao progresso e também ao advento do regime normal ...” ( Barreto,<br />

1993: 67). Na prática, o sistema positivista revelava-se como conservador tal a ojeriza<br />

que tinha Comte pela anarquia, à maneira <strong>de</strong> Goethe, também conservador, que preferia<br />

antes praticar <strong>uma</strong> injustiça, a sofrer a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m.<br />

No entanto, essa construção intencional <strong>de</strong> imagens do Presi<strong>de</strong>nte como herói,<br />

como salvador <strong>da</strong> pátria, imbuído <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> em nome <strong>da</strong> República, <strong>não</strong><br />

diminuiu sua eficácia. Elas <strong>de</strong>spertaram paixões, reconstruíram i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e objetivaram<br />

regular a vi<strong>da</strong> coletiva, expressaram respostas aos conflitos, divisões e violências<br />

presentes na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, enfim reafirmavam que governar é antes <strong>de</strong> tudo fazer crer<br />

(Baczko, 1984: 330).<br />

Era ar<strong>de</strong>nte o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Quaresma e <strong>de</strong> muitos outros brasileiros, <strong>de</strong> refazer a<br />

administração publica. No Império <strong>de</strong>corativo, sempre vencia no teatro <strong>da</strong>s eleições quem

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