para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
[Escrever texto]<br />
empréstimos, os oferecera ao presi<strong>de</strong>nte. “A República precisava ser consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>”<br />
pensava ele.<br />
Quaresma parecia enten<strong>de</strong>r que era neces<strong>sá</strong>rio o conhecimento <strong>da</strong> terra, e seus<br />
valores, que a estabilização <strong>da</strong> consciência nacional era <strong>uma</strong> condição básica <strong>para</strong> que a<br />
pátria se transformasse em nação, que era neces<strong>sá</strong>rio atribuir àqueles projetos a missão<br />
<strong>de</strong> conferir uni<strong>da</strong><strong>de</strong> a um país recortado por fen<strong>da</strong>s econômicas, sociais, políticas e<br />
culturais e encobrir as marcas <strong>da</strong> cisão e <strong>da</strong> <strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong> existentes – legado <strong>da</strong><br />
estrutura colonial. A idéia <strong>de</strong> nação, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> consenso apresentava-se como<br />
fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> a existência do progresso expresso na idéia <strong>de</strong> Nação Civiliza<strong>da</strong> que<br />
quase todos brasileiros, naquele momento, <strong>de</strong>sejavam.<br />
Porém, antes <strong>de</strong> se envolver nos projetos anteriormente mencionados o<br />
autor/narrador empenhou-se em muitas <strong>leitura</strong>s e estudos sobre o Brasil. Foram trinta<br />
anos <strong>de</strong> <strong>leitura</strong> <strong>para</strong> compreen<strong>de</strong>r o país. Esse ato do personagem <strong>de</strong>monstra, no meu<br />
entendimento, sua fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> ao slogan “compreen<strong>de</strong>r <strong>para</strong> reorganizar” que orientava<br />
as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s intelectuais européias <strong>para</strong> <strong>uma</strong> forma concreta do pensamento, principio<br />
básico do positivismo (Lins: 1964:12) e que se dissi<strong>para</strong> largamente na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> carioca.<br />
Embora Quaresma nunca tivesse sido ungido pelos rituais que conduzem ao diploma<br />
acadêmico contava, em sua casa com <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> biblioteca: “era um vasto aposento, ...<br />
forrado <strong>de</strong> estantes <strong>de</strong> ferro. Havia perto <strong>de</strong> <strong>de</strong>z, com quatro prateleiras, fora as<br />
pequenas com os livros <strong>de</strong> maior tomo...” (Barreto, 1993: 21). Mas, “se <strong>não</strong> era formado,<br />
<strong>para</strong> quê livros? Pe<strong>da</strong>ntismo!” (Barreto, 1993: 22) criticavam seus contemporâneos que<br />
se aportavam no imaginário reinante na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> carioca que instituía primazia aos<br />
títulos acadêmicos e <strong>de</strong>sse modo, naturalizavam a imagem do país como a “República<br />
dos letrados”. O narrador mostra que no advento <strong>da</strong> República os cargos nobiliários<br />
passaram a existir somente nas lembranças do Império e, os cultos à aparência e o anel <strong>de</strong><br />
doutor se tornam símbolos <strong>de</strong> consagração nacional.<br />
Sobre estes novos personagens <strong>da</strong> história republicana brasileira – os doutores,<br />
Lima Barreto, na voz do narrador Quaresma os representa como sendo, na maioria,