09.05.2013 Views

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

291 polissema 7 2007<br />

a um auditório brasileiro, “é a expressão do nosso próprio sonho, dos homens e mulheres<br />

do Terceiro Mundo; é a nossa poesia.” 10<br />

Lusitani<strong>da</strong><strong>de</strong>, Negritu<strong>de</strong> e civilização do Universal<br />

Lusofonia.<br />

Esta última citação exprime a convicção <strong>de</strong> Senghor na vocação universal <strong>da</strong><br />

Antes <strong>de</strong> evocar a sua concepção e o seu sonho <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “civilização pan-h<strong>uma</strong>na”<br />

forma<strong>da</strong> pela convergência dos contributos culturais <strong>de</strong> “todos os povos <strong>de</strong> todo o planeta<br />

Terra”, parece-me oportuno recor<strong>da</strong>r aqui que o h<strong>uma</strong>nismo <strong>de</strong> Senghor, frequentemente<br />

criticado, <strong>de</strong>dicou-se <strong>de</strong> modo concreto a abrir caminho a esse i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong><br />

fraterni<strong>da</strong><strong>de</strong>. O Senegal do presi<strong>de</strong>nte Senghor quis ser também, a exemplo <strong>de</strong> Portugal,<br />

“a gran<strong>de</strong> arca dos fugitivos”. A “Teranga” senegalesa permitiu assim acolher os<br />

guineenses que fugiam do regime <strong>de</strong> Sékou Touré, os haitianos perseguidos por Duvalier<br />

e pelos seus “Tontons Macouttes” e também os cabo-verdianos que tentavam escapar à<br />

miséria.<br />

Po<strong>de</strong> também pensar-se que a gran<strong>de</strong> estima em que Senghor sempre teve a<br />

civilização portuguesa e a sua convicção <strong>de</strong> que esta tem a missão <strong>de</strong> <strong>não</strong> ficar <strong>de</strong> fora do<br />

“encontro do <strong>da</strong>r e do receber” <strong>da</strong>s culturas mundiais – imagem que foi buscar a Césaire<br />

– explicam em larga medi<strong>da</strong> a aju<strong>da</strong> efectiva que sempre tentou pessoalmente trazer a<br />

Portugal no seu trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização. Quando Mohamed Aziza o questionou sobre<br />

as suas relações políticas com Portugal, respon<strong>de</strong>u: “Sempre apoiámos a luta dos<br />

movimentos <strong>de</strong> libertação <strong>da</strong>s antigas colónias portuguesas. Foi o primeiro elemento <strong>da</strong>s nossas<br />

relações com Portugal. Amílcar Cabral era um gran<strong>de</strong> amigo. (…) Já falei do meu encontro<br />

secreto com o general Spínola, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> resultou o movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização portuguesa. Não<br />

vou repeti-lo. Se hoje o Senegal atribui <strong>uma</strong> importância particular à cooperação luso-<br />

senegalesa, se abrimos <strong>uma</strong> embaixa<strong>da</strong> em Lisboa foi, bem entendido, por essas razões, mas<br />

também por causa <strong>da</strong>s relações que ligam o Partido Socialista do Senegal ao Partido Socialista<br />

10 Liberté 3, p. 29.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!