09.05.2013 Views

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

294 polissema 7 2007<br />

a causa <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural luso-afro-brasileira” alarga<strong>da</strong>, no momento em<br />

que fala disso às antigas colónias portuguesas então já in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Na homenagem que lhe prestou no seu nonagésimo aniver<strong>sá</strong>rio, Augusto Seabra<br />

conta a visita que fez com ele, em 1988, ao Mosteiro <strong>da</strong> Batalha: “Enquanto passeávamos<br />

(…) no recinto do mosteiro (…), pu<strong>de</strong>mos ver as lágrimas a surgirem-lhe, por trás dos óculos.<br />

Por entre longos silêncios, falava-nos abertamente (…) <strong>da</strong> arte portuguesa, que, tal como a<br />

língua e a poesia, “une harmoniosamente a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e as regras, a ternura e o esplendor”. Esse<br />

era precisamente, dizia Senghor, o intuito <strong>da</strong> mestiçagem: “resolver as contradições <strong>não</strong> pela<br />

violência do confronto, mas pela doçura <strong>da</strong> simbiose”.” 19<br />

“…A doçura <strong>da</strong> simbiose”: todo o h<strong>uma</strong>nismo <strong>de</strong> Senghor se exprime nesta<br />

fórmula. É esse o caminho que ele sempre <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u e que ele próprio seguiu à custa <strong>de</strong><br />

um esforço constante. Com efeito, <strong>não</strong> é ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que confessou que “to<strong>da</strong> a [sua] vi<strong>da</strong><br />

tentara conciliar Negritu<strong>de</strong> e Francofonia”, exigência <strong>de</strong> enraizamento e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

abertura?<br />

“…A doçura <strong>da</strong> simbiose”: <strong>para</strong> ele, aí resi<strong>de</strong> seguramente a força do exemplo<br />

português. E a sua gran<strong>de</strong>za também, que é transmitir ao mundo que apenas a<br />

mestiçagem cultural é garante <strong>de</strong>ssa “convergência <strong>para</strong> o Universal” que verá<br />

finalmente a aventura h<strong>uma</strong>na <strong>de</strong>sabrochar n<strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> esperança e <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino.<br />

19 Augusto SEABRA, op. cit., p. 219.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!