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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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214 polissema 7 2007<br />

nomea<strong>da</strong>mente quando enumera os locais geográficos que Martha nunca vira, afirmando<br />

“or what you will” (61), e quando, ao <strong>de</strong>screver os inúmeros temas <strong>de</strong> conversa que<br />

jovem utiliza premedita<strong>da</strong>mente <strong>para</strong> entreter Cuming, termina abruptamente, recorrendo<br />

à expressão “etc.” (122), <strong>de</strong>ixando o resto <strong>da</strong> frase à mercê <strong>da</strong> imaginação <strong>da</strong> instância<br />

receptora, a quem se <strong>de</strong>stinam igualmente os inúmeros comentários interpretativos. Esta<br />

atitu<strong>de</strong> confere liber<strong>da</strong><strong>de</strong> ao <strong>de</strong>stinatário <strong>da</strong> narrativa, também ele um elemento textual<br />

implícito ou implicado na mesma, motivando-o a complementar o texto ao continuar a<br />

enumeração. As interpelações ao leitor funcionam, portanto, como auto-referências do<br />

próprio texto, envolvendo o horizonte <strong>de</strong> expectativas (Iser, 1978: 99 e Jauss, 1982: 88)<br />

do primeiro <strong>de</strong> forma mais intensa, bem como o seu conhecimento dos intertextos que<br />

enriquecem a caracterização <strong>da</strong> Macau <strong>de</strong> finais do século XVIII e consequentemente a<br />

<strong>leitura</strong> <strong>de</strong> CBP.<br />

Símbolos como o Chinese Pidgin English e o divã atrás do qual Martha se refugia<br />

n<strong>uma</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva, por oposição ao mar no momento <strong>da</strong> sua libertação, caracterizam<br />

o espaço ‘etnográfico’ ou histórico <strong>da</strong> urbe, <strong>uma</strong> vez que também as gelosias ou rótulas<br />

<strong>da</strong>s janelas são imediatamente associa<strong>da</strong>s à arquitectura portuguesa, servindo <strong>para</strong><br />

proteger o interior <strong>da</strong>s casas do calor e <strong>de</strong> olhares indiscretos. As swing doors, ou portas<br />

<strong>de</strong> espal<strong>da</strong>r, nunca completamente abertas nem fecha<strong>da</strong>s, acabam por substituir a<br />

escuridão <strong>para</strong> marcar o meio termo do percurso <strong>da</strong> protagonista e a conquista do espaço<br />

público implícita na enumeração gra<strong>da</strong>tiva do final do texto: “On the great sea-in those<br />

places-to the world! My name!” (313). O facto <strong>de</strong> a dimensão feminil do romance ser<br />

prepon<strong>de</strong>rante sustenta a simbologia do título <strong>da</strong> <strong>obra</strong>, pois se o termo City remete <strong>para</strong> o<br />

espaço geral e físico <strong>da</strong> acção, a expressão of Broken Promises aponta <strong>para</strong> a crítica <strong>da</strong><br />

moral inglesa, que apenas a voz feminina e a distanciação temporal possibilita, ou seja, o<br />

elemento <strong>para</strong>textual chama a atenção <strong>para</strong> a situação histórica <strong>da</strong>s diferentes<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Macau setecentista no seio <strong>da</strong>s quais Martha e Thomas são excepções,<br />

na medi<strong>da</strong> em que as promessas <strong>de</strong>ste à mulher chinesa acabam por ser cumpri<strong>da</strong>s. Os<br />

motivos literários reiterativos tornam-se também elementos-chave <strong>da</strong> <strong>obra</strong>, sendo

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