09.05.2013 Views

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

180 polissema 7 2007<br />

seu livro Salvo Conduto 15 , ao travar conhecimento com Mayakovsky, Pasternak 16 começa<br />

por <strong>de</strong>screvê-lo como um homem bonito, com <strong>uma</strong> voz profun<strong>da</strong> e punhos <strong>de</strong> boxeur, <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> extrema inteligência, algures, diz, “entre um herói lendário <strong>de</strong> Alexandr Green 17 e<br />

um toureiro espanhol” 18 . Na <strong>obra</strong> supracita<strong>da</strong>, escreve, ain<strong>da</strong>, “tinha perdido a cabeça por<br />

Maiakovski”, “adorava-o”, “Maiakovski era o ápice do <strong>de</strong>stino <strong>da</strong> poesia” (Ehrenburg,<br />

1965: 34), acrescentando, contudo, que o principal nele era o seu sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver que<br />

fazia com que ele <strong>não</strong> se permitisse ser outro – nem menos belo, nem menos inteligente,<br />

nem menos talentoso. De facto, o seu espírito <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão era o seu próprio génio, génio<br />

que chegava a surpreen<strong>de</strong>r o próprio autor e que ele incarnou até ao fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sem<br />

reservas nem pie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O movimento rápido <strong>da</strong> poesia <strong>de</strong> Mayakovsky dá corpo ao ritmo nervoso <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

urbana e à multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estímulos simultâneos, mas <strong>não</strong> relacionados, que os<br />

Futuristas Russos, tal como os seus pre<strong>de</strong>cessores italianos, incorporam nas suas teorias<br />

estéticas, segundo o princípio que a sua arte <strong>de</strong>ve ser tão <strong>de</strong>scontínua quanto a vi<strong>da</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna, libertando as energias que levará o Homem <strong>para</strong> a frente na conquista do tempo<br />

e do espaço. Como afirma nas conclusões do seu artigo Como fazer versos 19 , escrito em<br />

1926, “Poesia é produção. Po<strong>de</strong> ser mais difícil, mais complexa, mas é produção.”<br />

Num dos seus poemas mais conhecidos e já aqui citado, Nuvem <strong>de</strong> Calças,<br />

Mayakovsky <strong>de</strong>signava-se a si próprio como o “to<strong>da</strong>y’s yell-mouthed Zoroaster” (1976:<br />

125) 20 , inaugurando, formalmente, <strong>uma</strong> nova era e produzindo o cântico fúnebre do velho<br />

mundo. Tal como Nietzsche, Mayakovsky partilha <strong>uma</strong> estridência e um <strong>de</strong>sejo enorme<br />

<strong>de</strong> colocar to<strong>da</strong>s as suas forças ao serviço <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça, ao mesmo tempo que se lança,<br />

num ímpeto que dir-se-ia neurótico, n<strong>uma</strong> luta por subjugar o lado passivo e intuitivo <strong>da</strong><br />

15 Título em russo “Люди и положения” (ensaio autobiográfico).<br />

16 Ao lermos a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Mayakovsky por Pasternak, creio ser compreensível que Ilya Ehrenburg<br />

manifeste estranheza e incompreensão perante o facto <strong>de</strong>, na sua autobiografia, Pasternak acabar por<br />

renegar a velha amiza<strong>de</strong> com Mayakovsky.<br />

17 Referência ao autor russo Александр Степанович Грин, (1880 – 1932).<br />

18 No artigo Пастернак о Маяковский, em http://www.litera.ru/stixiya/articles/238.html.<br />

19 “Как делать стихи?”. Cf. http://www.litera.ru/stixiya/cgi/see.cgi?url=http://vlmayakovsky.narod.ru.<br />

20 Cf. http://www.litera.ru/stixiya/authors/mayakovskij/vashu-mysl-mechtayuschuyu.html, Облако в<br />

Штанах»: “крикогубый Заратустра”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!