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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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polissema 7 2007 23<br />

<strong>obra</strong>s como criações artísticas, avaliando-as como tal, e assim <strong>da</strong>ndo ao leitor perspicazes<br />

<strong>leitura</strong>s que funcionam sem que necessitem <strong>de</strong> conhecimentos biográficos <strong>de</strong> Sá-<br />

Carneiro. Não é porque o trabalho <strong>de</strong> Fernando Cabral Martins seja <strong>de</strong> questionável valor<br />

que ele forma a base <strong>de</strong>ste meu ensaio – antes pelo contrário: é <strong>de</strong>vido à sua<br />

inteligentíssima crítica à tradição <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r a <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Sá-Carneiro através d<strong>uma</strong> biografia<br />

questionável, on<strong>de</strong> esta é em parte basea<strong>da</strong> em conjecturas sobre a vi<strong>da</strong> cuja vali<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />

obti<strong>da</strong> através <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>da</strong>s criações literárias do autor. Foi na exposição <strong>de</strong>sta crítica que<br />

Martins <strong>de</strong>spertou a minha admiração, só que ela, <strong>de</strong>pois, <strong>não</strong> ficou inteiramente<br />

satisfeita, <strong>da</strong>do que o seu trabalho, a meu ver, recai naquele jogo <strong>de</strong> vaivém entre a <strong>obra</strong> e<br />

a vi<strong>da</strong> do autor que Martins critica.<br />

Admito, no entanto, que esteja a ser injusto na minha avaliação do estudo <strong>de</strong><br />

Martins. Logo no início <strong>de</strong>ste meu trabalho (p. 2) citei <strong>uma</strong> passagem do prefácio <strong>de</strong><br />

Martins on<strong>de</strong> ele explica que irá ‘consi<strong>de</strong>rar a dimensão contextual histórica’ (p. 13) <strong>para</strong><br />

assim melhor expor o papel <strong>de</strong>sempenhado por Sá-Carneiro no <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

Mo<strong>de</strong>rnismo português. Dentro <strong>de</strong>sta perspectiva O Mo<strong>de</strong>rnismo em Mário <strong>de</strong> Sá-<br />

Carneiro exce<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as expectativas, oferecendo <strong>uma</strong> visão histórica <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

amplitu<strong>de</strong> que nos aju<strong>da</strong> a avaliar a importância do Mo<strong>de</strong>rnismo português e do que este<br />

movimento artístico consistia. E <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta mesma perspectiva, a análise <strong>da</strong><br />

correspondência <strong>de</strong> Sá-Carneiro, como documentos históricos, é inteiramente justifica<strong>da</strong>,<br />

<strong>da</strong>ndo-nos entra<strong>da</strong>, pela mão <strong>de</strong> Martins, a um panorama que engloba os impulsos<br />

mo<strong>de</strong>rnistas <strong>de</strong> Sá-Carneiro e as suas próprias intuições sobre o que estava a criar. Mas,<br />

neste caso, O Mo<strong>de</strong>rnismo em Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro é um trabalho <strong>de</strong> história literária<br />

que expõe a importância <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro, e do Mo<strong>de</strong>rnismo que ele ajudou a<br />

<strong>de</strong>senvolver, <strong>para</strong> a tradição <strong>da</strong> literatura portuguesa; ele <strong>não</strong> é, na íntegra, <strong>uma</strong> análise <strong>de</strong><br />

crítica literária, embora contenha elementos <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> trabalho. São estes elementos<br />

que por vezes iluminam a <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Sá-Carneiro exclusivamente como criações artísticas,<br />

mas que também recaem repeti<strong>da</strong>s vezes <strong>para</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> área <strong>da</strong> história literária, entrando<br />

no jogo <strong>de</strong> correspondências entre o mundo concreto <strong>de</strong> Sá-Carneiro e a sua literatura.<br />

Por isso é que o trabalho <strong>de</strong> Martins <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como sendo <strong>de</strong> história<br />

literária. Então, se apesar <strong>de</strong> conter alg<strong>uma</strong>s instâncias <strong>de</strong> crítica literária <strong>da</strong> <strong>obra</strong> <strong>de</strong> Sá-

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