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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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comerciantes e equivalentes, circulavam pelas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> negros, mulatos e brancos,<br />

conferindo-lhes <strong>uma</strong> fisionomia muito mistura<strong>da</strong>, calca<strong>da</strong> na gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tipos,<br />

<strong>de</strong> línguas e tradições que o nacionalismo <strong>de</strong>sejava homogeneizar. Desse modo, o<br />

nacionalismo que mobilizou milhares <strong>de</strong> pessoas, movimentos culturais e políticos<br />

confirma o conceito <strong>de</strong>fendido por Ernest Gellner em Thought and Change, <strong>para</strong> quem o<br />

“nacionalismo <strong>não</strong> é o <strong>de</strong>spertar <strong>da</strong>s nações <strong>para</strong> a auto-consciência: ele inventa nações<br />

on<strong>de</strong> elas <strong>não</strong> existem” (1989: 11).<br />

No cotidiano <strong>de</strong> Quaresma no sitio, os infortúnios <strong>de</strong> muitas <strong>leitura</strong>s anteriores<br />

sobre as ciências naturais – Biologia, Zoologia, Geologia, <strong>de</strong>ntre outras, o conduziram à<br />

práticas rurais presidi<strong>da</strong>s pelos cânones científicos tais como: inventário dos vegetais,<br />

um museu no papel que se preocupava com a i<strong>de</strong>ntificação dos animais e a localização<br />

espacial dos mesmos, <strong>uma</strong> biblioteca agrícola, comprou barômetro, hidrômetro e outros<br />

instrumentos. Aqui observo mais <strong>uma</strong> senha positivista explicita<strong>da</strong> no zelo do narrador<br />

pelo espírito científico nos seus fazeres cotidianos – era preciso a ciência sair do<br />

empirismo, fun<strong>da</strong>mentalmente no campo social e político <strong>não</strong> confundindo os <strong>de</strong>sejos do<br />

Estado e dos povos com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. As ciências do homem encontravam-se volta<strong>da</strong>s<br />

ain<strong>da</strong> <strong>para</strong> dogmas absolutos, naturais ou sobrenaturais, baseados em provi<strong>de</strong>ncias,<br />

enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e essências, quando se <strong>de</strong>ve cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> existência social do presente (Comte,<br />

1973: 26). Estas práticas <strong>de</strong> Quaresma carrega<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cientificismo confrontavam-se com<br />

as li<strong>da</strong>s na terra <strong>de</strong> Anastácio, ex-escravo que certamente apren<strong>de</strong>ra a cultivar a terra por<br />

meio <strong>de</strong> historias, <strong>da</strong>s tradições que lhe foram repassa<strong>da</strong>s por seus antepassados<br />

africanos, <strong>de</strong> forma oral, e com essas também recebera a experiência <strong>da</strong>queles, vivifica<strong>da</strong><br />

sob a forma <strong>de</strong> sabedoria (Benjamin: 1989: 197). Por trabalharem a terra com práticas tão<br />

diferentes, Anastácio perguntava com assombro: “seu majó, <strong>para</strong> que tanta coisa, tanto<br />

livro, tanto vidro?” e quando Quaresma lhe respon<strong>de</strong> que estava vendo se ia chover<br />

muito , ele prontamente replica – “ Para que isso patrão? a gente sabe logo <strong>de</strong> olho<br />

quando vai chover muito ou pouco “ (Barreto, 1993: 43). Se Anastácio <strong>não</strong> tinha o saber<br />

racional, privilégio dos bacharéis, presidido pela ciência positiva que exclui o senso<br />

comum, ele contava com o senso prático que tecido na substancia viva <strong>da</strong> existência se

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