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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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polissema 7 2007 21<br />

Apesar <strong>de</strong>stes esclarecimentos, Martins faz <strong>uma</strong> análise <strong>de</strong>sta “carta-poema” e <strong>da</strong><br />

“personagem feminina” que acaba por <strong>de</strong>duzir que essa personagem é a imagem cria<strong>da</strong><br />

por Sá-Carneiro, inspira<strong>da</strong> por <strong>uma</strong> prostituta encara<strong>da</strong> como pessoa concreta do mundo<br />

real, e assim cruzando as linhas textuais e <strong>biográfica</strong>s. Este é o caso, mesmo que Martins<br />

tente sugerir que a personagem feminina é a imagem inspira<strong>da</strong> por outra imagem <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

prostituta, fazendo eco ao jogo <strong>de</strong> espelhos mo<strong>de</strong>rnista, pois, no fim, o fotógrafo tem <strong>de</strong><br />

fotografar <strong>uma</strong> pessoa concreta – a prostituta real que fica por trás <strong>de</strong> qualquer imagem.<br />

Se no exemplo acima Martins acha neces<strong>sá</strong>rio esclarecer a sua posição, esse já <strong>não</strong><br />

é o caso nos seguintes dois exemplos, ambos tratando do conto Ressurreição. No<br />

primeiro, Martins <strong>de</strong>clara:<br />

Este conto é, também, <strong>de</strong>ntre todos os textos narrativos <strong>de</strong> Sá-Carneiro, o que contém<br />

maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autobiografemas. Aparecem em Ressurreição nomes <strong>de</strong> personagens cuja<br />

<strong>de</strong>scodificação é evi<strong>de</strong>nte, como Fernando Passos (Pessoa), Vitorino Bragança (Vitoriano<br />

Braga) e Jorge Pacheco (José Pacheco). O próprio nome do protagonista Inácio <strong>de</strong> Gouveia<br />

evoca, pelas rimas, o <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro (p. 252).<br />

Quanto ao segundo:<br />

Voltando a Ressurreição, a <strong>leitura</strong> do conto torna sensível um outro modo <strong>de</strong> significação<br />

do texto – modo mais intenso, embora <strong>não</strong> explícito: é a coincidência entre as linhas <strong>da</strong><br />

autobiografia e a <strong>da</strong> provocação. Repare-se que os amigos <strong>de</strong> Inácio <strong>de</strong> Gouveia são todos<br />

artistas <strong>de</strong> vanguar<strong>da</strong>: o cubista Manuel Lopes (Eduardo Viana?) ou os mo<strong>de</strong>rnistas, com nomes<br />

tenuemente disfarçados, Pessoa, José Pacheco, Vitoriano Braga. Ressurreição aparece, assim,<br />

como um gesto <strong>de</strong> combate artístico (p. 255).<br />

No primeiro exemplo transparece evidência <strong>da</strong> que<strong>da</strong> na armadilha do biografismo,<br />

on<strong>de</strong> a revelação que Ressureição é o conto ‘que contém maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

autobiografemas’ é também reveladora dum exercício contabilístico por parte <strong>de</strong> Martins,<br />

on<strong>de</strong> ele i<strong>de</strong>ntifica ca<strong>da</strong> instância <strong>de</strong> <strong>uma</strong> aparente correlação entre a <strong>obra</strong> e a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Sá-<br />

Carneiro. É precisamente porque Martins mantém na sua consciência todosos <strong>da</strong>dos

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