09.05.2013 Views

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

119 polissema 7 2007<br />

Durante este período, a época do poeta-sol<strong>da</strong>do, quando estanciava no Porto, entre<br />

o <strong>de</strong>sembarque no Min<strong>de</strong>lo e a Revolução <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1836, Herculano esteve<br />

bastante ligado à influência dos irmãos Schlegel, influência que repassa nos artigos<br />

publicados no Repositório Literário (1834-1835), como mais tar<strong>de</strong>, já em Lisboa, n’O<br />

Panorama 11 , revista on<strong>de</strong> publicou, entre 1837 e 1840, vários estudos sobre teatro<br />

medieval e folclore, alguns <strong>de</strong>les constituindo relatórios sobre peças apresenta<strong>da</strong>s ao<br />

Conservatório e, por isso mesmo, representando a participação do escritor 12 , ao lado <strong>de</strong><br />

Garrett, na reforma do teatro português.<br />

Fre<strong>de</strong>rico Schlegel trouxe <strong>para</strong> a literatura o princípio fichtiano do infinito, <strong>da</strong><br />

infinitu<strong>de</strong> do eu, <strong>da</strong> sua absoluta liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois <strong>de</strong>le <strong>de</strong>rivavam <strong>não</strong> só o sujeito, como<br />

também o objecto do conhecimento. Este eu absoluto, criador e infinito, realizava-se,<br />

<strong>para</strong> Schlegel, na poesia romântica, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira expressão <strong>de</strong>ssa liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, porque "o<br />

arbítrio do poeta <strong>não</strong> suporta lei alg<strong>uma</strong>", ou <strong>não</strong> fosse ele o mediador entre o homem e o<br />

infinito, o homem que, como ensinava Fichte, ascen<strong>de</strong>u ao conhecimento <strong>de</strong> si <strong>para</strong> além<br />

do que existe fora <strong>de</strong>le, o homem que apenas necessita <strong>de</strong> si próprio <strong>para</strong> justificar a<br />

moral e a religião, pelo que,<br />

Mediador é aquele que exorta em si o divino, sacrificando-se e apagando-se <strong>para</strong> anunciar<br />

esse mesmo divino, <strong>para</strong> o participar e representar a todos os homens por meio dos costumes e<br />

<strong>da</strong>s acções, com palavras e com <strong>obra</strong>s. Se este impulso <strong>não</strong> existe, então é porque o que foi<br />

exaltado <strong>não</strong> era divino ou <strong>não</strong> era particularmente forte. Ser mediador entre o h<strong>uma</strong>no e o<br />

divino é tudo quanto <strong>de</strong> mais superior po<strong>de</strong> haver no homem; e todo o artista é mediador entre o<br />

divino e todos os outros homens 13 .<br />

11<br />

Herculano chega a lamentar que Garrett minimize o contributo dos românticos alemães (Seabra,<br />

1994b: 144-145; vd. tb. Saraiva; Lopes, 1996: 665 e 719.<br />

12<br />

Alexandre Herculano po<strong>de</strong>rá ter lido o Cours <strong>de</strong> littérature dramatique, <strong>de</strong> August-Wilhelm<br />

Schlegel, em 3 volumes, tradução <strong>de</strong> Ma<strong>da</strong>me Necker <strong>de</strong> Saussure, publica<strong>da</strong> em França em 1814, por on<strong>de</strong><br />

repassa a teorização romântica dos irmãos Schlegel; o mesmo terá acontecido em relação ao "Preface" <strong>de</strong><br />

Victor Hugo ao seu Cromwell, publicado em 1827, peça que igualmente teoriza o romantismo, profetizando<br />

que "tudo o que está na natureza está na arte" e promovendo, por isso mesmo, um regresso à vi<strong>da</strong>, à<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e aos sentimentos e emoções.<br />

13<br />

Schlegel, Friedrich. 1800. "I<strong>de</strong>en". Athenäum. Jena, Ver nota 12 supra.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!