para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
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polissema 7 2007 228<br />
O Ramalho positivista e proudhoniano <strong>não</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> reconhecer, num artigo <strong>da</strong>tado<br />
<strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1881, publicado no António Maria e que recolheu mais tar<strong>de</strong> n’ As<br />
Farpas Esqueci<strong>da</strong>s, que o princípio fe<strong>de</strong>rativo “é a primeira afirmação <strong>da</strong> filosofia<br />
mo<strong>de</strong>rna” e um “facto científico” 8 . Porém, nem a influência dos dois “reconstrutores <strong>da</strong><br />
filosofia do século” – Herbert Spencer e Auguste Comte – é suficiente <strong>para</strong> convencer o<br />
periodista português, que acredita, acima <strong>de</strong> tudo, que quando se fala <strong>de</strong> união ibérica é<br />
<strong>de</strong> <strong>uma</strong> traição à Pátria que se trata. “Po<strong>de</strong>-se ser carlista, po<strong>de</strong>-se ser reformista, po<strong>de</strong>-<br />
se ser tudo quanto acabar em –ista, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> monarquista até fadista, somente o que <strong>não</strong> se<br />
po<strong>de</strong> ser é fe<strong>de</strong>ralista” 9 . E a menor simpatia pela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> confe<strong>de</strong>ração é-lhe suficiente<br />
<strong>para</strong> qualificar alguém <strong>de</strong> “infame”, “especulador” e “traidor”. De facto, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
Sérgio Campos Matos, o Iberismo foi politicamente aproveitado pelos seus <strong>de</strong>tractores:<br />
“A integração <strong>de</strong> Portugal e Espanha n<strong>uma</strong> mesma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> política, sob a<br />
forma <strong>de</strong> <strong>uma</strong> monarquia ou <strong>de</strong> <strong>uma</strong> república fe<strong>de</strong>ral, foi i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> com fusão ou<br />
absorção do pequeno estado Português n<strong>uma</strong> Espanha sempre ávi<strong>da</strong> <strong>de</strong> cons<strong>uma</strong>r<br />
essa uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. E os iberistas foram vistos, em Portugal, como inimigos internos,<br />
traidores <strong>da</strong> Pátria” 10 .<br />
A “Pátria”, assegurava Ramalho em 1899, “<strong>não</strong> é um organismo exclusivamente<br />
político, como cuido que imaginam as nossas secretarias <strong>de</strong> estado. A Pátria é também a<br />
terra e a tradição. […] Para amar a tradição é preciso conhecê-la, e é no fundo <strong>de</strong>sse<br />
conhecimento que ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente resi<strong>de</strong> a consciência <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>” 11 . E<br />
Ramalho conhecerá, melhor do que ninguém, a sua Pátria, percorrendo <strong>de</strong> lés a lés, os<br />
quatro cantos do Portugal histórico, como viajante <strong>de</strong> pé posto, por romarias, feiras-<br />
francas, cordilheiras e planuras, termas e praias, botequins e pousa<strong>da</strong>s, cujo testemunho<br />
8<br />
ORTIGÃO, Ramalho (1946) Farpas Esqueci<strong>da</strong>s, Lisboa, Clássica Editora, t. I, p. 123<br />
9<br />
I<strong>de</strong>m, p. 124<br />
10<br />
MATOS, Sérgio, I<strong>de</strong>m, p.3<br />
11<br />
ORTIGÃO, Ramalho (1956), “A Tradição”, Folhas Soltas.1865-1915, Lisboa, Livraria Clássica Editora,<br />
p. 249