09.05.2013 Views

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

116 polissema 7 2007<br />

1987), título que, na esteira dos Palimpsestes 2 , acrescentou horizontes inéditos à<br />

hermenêutica literária.<br />

As novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s carrea<strong>da</strong>s pela época <strong>de</strong> Herculano, as procelas políticas e sociais, o<br />

conflito entre liberalismo e ultramontanismo, como também a estreiteza dos grémios<br />

literários portugueses, estarão por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>stes <strong>para</strong>textos, muitos <strong>de</strong>les ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros<br />

manifestos <strong>de</strong> erudição e competência científica, do autodi<strong>da</strong>cta que <strong>não</strong> receia o<br />

confronto e a concorrência universitária. Bastará atentarmos nas epígrafes alógrafas 3 que<br />

encabeçam os capítulos dos seus romances, recolhi<strong>da</strong>s nas <strong>obra</strong>s e arquivos que<br />

compulsava e consultava, <strong>para</strong> <strong>de</strong>scobrirmos a sageza <strong>da</strong> escolha, a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s fontes e <strong>da</strong>s colectâneas documentais utiliza<strong>da</strong>s pelo historiador. Esta<br />

mo<strong>da</strong> romântica <strong>de</strong> epigrafar, introduzi<strong>da</strong> por Walter Scott que, no entanto, como ele<br />

próprio o afirma, cita frequentemente <strong>de</strong> memória ou inventa (Genette, 1987: 136), tem<br />

em Herculano <strong>uma</strong> função clara e visível: as suas epígrafes são peritextos 4 <strong>de</strong> força<br />

elocutória 5 , intencionais, são "por si só um sinal (que se quer indício) <strong>de</strong> cultura, um<br />

santo-e-senha <strong>da</strong> intelectuali<strong>da</strong><strong>de</strong>" (i<strong>de</strong>m: 148-149) do historiador.<br />

Para o presente estudo, <strong>de</strong>finidos que foram os respectivos parâmetros, patentes<br />

na escolha do título, iremos privilegiar a análise dos peritextos referidos à problemática<br />

do pensamento historiográfico <strong>de</strong> Alexandre Herculano, às limitações senti<strong>da</strong>s pelo<br />

historiador no <strong>para</strong>digma científico com que opera, e ao papel <strong>da</strong> ficção na realização<br />

erudita, temática, <strong>biográfica</strong>)" <strong>da</strong> "crítica nova (estrutural, textual, formalista, poética)", nas palavras <strong>de</strong><br />

Michel Contat (Les palimpsestes <strong>de</strong> la littérature. Le Mon<strong>de</strong> <strong>de</strong>s Livres, 11/6/1982).<br />

2<br />

Genette, Gérard. Palimpsestes: La littérature au second <strong>de</strong>gré. Paris: Éditions du Seuil, 1982.<br />

3<br />

Na sua sistematização, Genette classifica os <strong>para</strong>textos em vários campos: quanto aos caracteres <strong>de</strong><br />

lugar, <strong>de</strong> tempo, <strong>de</strong> substância, <strong>de</strong> regime pragmático e <strong>de</strong> aspecto funcional. Uma <strong>da</strong>s características que<br />

<strong>de</strong>fine o estatuto pragmático é a natureza do <strong>de</strong>stinador que tanto po<strong>de</strong> ser o autor ( <strong>para</strong>texto autorial),<br />

como o editor ( <strong>para</strong>texto editorial), como <strong>uma</strong> terceira pessoa ( <strong>para</strong>texto alógrafo). As epígrafes dos<br />

romances históricos <strong>de</strong> Herculano, presentes principalmente no Eurico e n’ O Monge <strong>de</strong> Cister, são<br />

retira<strong>da</strong>s <strong>de</strong> várias <strong>obra</strong>s <strong>de</strong> outros autores, <strong>da</strong>í constituírem <strong>para</strong>textos alógrafos (Genette, 1987: 10-19).<br />

4<br />

Consi<strong>de</strong>rando "o lugar que ocupam", um dos campos <strong>da</strong> taxinomia genettiana, os <strong>para</strong>textos<br />

divi<strong>de</strong>m-se em peritextos e epitextos. Os primeiros envolvem o texto, vestem o texto <strong>de</strong>ntro do livro e<br />

correspon<strong>de</strong>m aos exemplos apontados na nota 2, supra; os segundos referem-se ao livro, mas constituem<br />

mensagens exteriores, sejam elas entrevistas, correspondência, diários, etc. (Genette, 1987: 136).<br />

5<br />

A força elocutória <strong>de</strong> um <strong>para</strong>texto i<strong>de</strong>ntifica-se com a transmissão <strong>de</strong> <strong>uma</strong> informação, <strong>uma</strong><br />

intenção ou <strong>uma</strong> interpretação, quer do autor, quer do editor.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!