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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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polissema 7 2007 236<br />

estão tão pobres como nós, e se o duque <strong>de</strong> Alva tivesse <strong>de</strong> nos invadir, <strong>não</strong> <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> pedir-<br />

nos, como antecipação do tributo <strong>de</strong> guerra que lhe mandássemos à fronteira – <strong>uma</strong> tipóia” 29<br />

Conclusão<br />

As várias posições que Ramalho Ortigão foi apresentando no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sta<br />

conten<strong>da</strong> são, quanto a nós, <strong>para</strong>digmáticas <strong>da</strong>s oscilações que marcaram as diferentes<br />

personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e i<strong>de</strong>ologias que constituíram a Geração <strong>de</strong> 70, que <strong>não</strong> é<br />

una e homogénea, antes diversa e circunstancial.<br />

“A consciência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>de</strong>svalia trágica (…) o sentimento <strong>de</strong> fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> ôntica<br />

relativo à existência pátria” 30 , marcam <strong>de</strong> forma medular a Geração <strong>de</strong> 70, que, <strong>de</strong> forma<br />

simbiótica, se i<strong>de</strong>ntificou holisticamente com o espaço nacional. A noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência<br />

pátria e <strong>de</strong> “crise dos povos peninsulares” – em cujo esclarecimento Ramalho e os outros<br />

membros <strong>da</strong> geração partici<strong>para</strong>m – é sempre em relação à França, à Inglaterra e aos<br />

países do norte, como a Holan<strong>da</strong>. A Espanha, país vizinho, é <strong>de</strong>scrita por Ramalho<br />

Ortigão como nação amiga que inspira simpatia e admiração, mas à menor sugestão <strong>de</strong><br />

unionismo, todos os argumentos lhe são válidos <strong>para</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional.<br />

O tratamento <strong>da</strong> temática <strong>da</strong> Questão Ibérica por Ramalho Ortigão parece-nos,<br />

enfim, um exemplo <strong>para</strong>digmático <strong>da</strong>s oscilações intelectuais que vários autores<br />

<strong>de</strong>nunciaram no periodista portuense e que Ama<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Carvalho Homem sintetizou na<br />

expressão “evolução espiritual” 31 . Com efeito, se o vemos amiú<strong>de</strong> invectivar o Iberismo,<br />

reagindo acerbamente ou com ironia a qualquer pretensão anexionista manifesta<strong>da</strong> pelos<br />

espanhóis, alia<strong>da</strong> ao encómio do patriotismo, vemo-lo, <strong>para</strong>doxalmente, criticar esse<br />

pendor sentimentalista e retórico do anti-iberismo e luci<strong>da</strong>mente, com to<strong>da</strong> a sua<br />

pe<strong>da</strong>gogia, assegurar que “o que po<strong>de</strong>mos ter como certo é que <strong>da</strong> vizinha Espanha,<br />

como muitos acreditam, nenhum mal temos a recear” 32 , porque, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, mais do que<br />

29 I<strong>de</strong>m, p.289<br />

30 LOURENÇO, Eduardo (1988), O Labirinto <strong>da</strong> sau<strong>da</strong><strong>de</strong>, Lisboa, Dom Quixote, p.86<br />

31 HOMEM, Ama<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Carvalho (2000), “Razão e Sentimento na Evolução Espiritual <strong>de</strong> Ramalho<br />

Ortigão”, in Revista <strong>de</strong> História <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ias, Coimbra, vol. 21, pp. 193- 219<br />

32 Correio <strong>de</strong> Hoje, p. 23

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