para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro
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Literatos como Olavo Bilac e Par<strong>da</strong>l Mallet, representando o pensamento <strong>de</strong> muitos<br />
outros, manifestaram-se contra a ditadura <strong>de</strong> Floriano Peixoto criando o jornal<br />
antiflorianista intitulado O Combate por meio do qual expressaram suas insatisfações<br />
com as práticas repressivas do governo. Aqueles escritores juntamente, com Coelho Neto<br />
e Aluízio <strong>de</strong> Azevedo, <strong>de</strong>ntre muitos outros, foram perseguidos e presos. José do<br />
Patrocínio, por exemplo, refugia-se durante meses no porão <strong>da</strong> casa do sogro, enquanto<br />
todos o julgavam morto; Guimarães Rosa é recrutado <strong>para</strong> servir a guar<strong>da</strong> nacional, mas<br />
exila-se em Buenos Aires (Coelho Neto, 1928: 360 -361). Tais práticas integravam um<br />
conjunto <strong>de</strong> violências que o governo vinha cometendo cotidianamente, além <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>portações e fuzilamentos.<br />
Relata Quaresma que um clima <strong>de</strong> terror fora instalado no Rio <strong>de</strong> Janeiro, qualquer<br />
ato que <strong>de</strong>monstrasse opinião contrária à do governo significava <strong>para</strong> esse, portar-se mal<br />
e logo, o castigo sob a forma <strong>de</strong> prisão ou morte chegaria. A pulverização <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res<br />
antes i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>, me remonta a Foucault (1990: 16) ao apontar que o po<strong>de</strong>r <strong>não</strong> se<br />
localiza apenas no Estado mas ele ganha formas locais que po<strong>de</strong>m ser expressas em<br />
gestos, atitu<strong>de</strong>s, comportamentos, discurso e outros, são os micro po<strong>de</strong>res. Nesse sentido,<br />
entendo que nos regimes autoritários essa disseminação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res fora do Estado além<br />
<strong>de</strong> ser <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> oferecer emprego aos seus aliados visa ain<strong>da</strong> estabelecer certa<br />
confusão junta à população que nunca sabe, ao certo, que autori<strong>da</strong><strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar e que,<br />
tampouco on<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r realmente se localiza.<br />
Por entre as fen<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ssa ditadura florianista observo a “mão <strong>de</strong> ferro” <strong>de</strong> um<br />
militar que acreditava acima <strong>de</strong> tudo na or<strong>de</strong>m como condição básica <strong>para</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> proposta civilizadora/mo<strong>de</strong>rnizadora do país e, <strong>para</strong> consolidá-la<br />
espargira entre as cama<strong>da</strong>s populares um imaginário conformista, <strong>de</strong> resignação diante<br />
dos males políticos julgados por eles como incuráveis. O marechal reduzia a atuação <strong>da</strong><br />
imprensa à simples boletins informativos; naturalizara a hierarquia <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>; via na<br />
República o estado normal <strong>da</strong> h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong><strong>de</strong> e , sobretudo acreditava no Exercito como<br />
instrumento político soberano cuja prática <strong>de</strong>veria ser centra<strong>da</strong> na manutenção <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m,<br />
fazer que ain<strong>da</strong> se constitui como prioritário no amanhecer do século XXI. Dessa forma,