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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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[Escrever texto]<br />

Ao abor<strong>da</strong>r a questão <strong>da</strong> guerra justa, consi<strong>de</strong>ra que apenas pertence a essa<br />

categoria aquela «que castiga as sem justiças que alg<strong>uma</strong> gente fez e <strong>não</strong> quer emen<strong>da</strong>r. Ou a<br />

que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o seu bando dos que injustamente o querem ofen<strong>de</strong>r [...] E sobre to<strong>da</strong>s é justa a<br />

guerra que castiga as ofensas a Deus contra aqueles <strong>de</strong>le blasfemam ou <strong>de</strong>ixam sua fé [...] ou<br />

impe<strong>de</strong>m a pregação <strong>de</strong>la, e perseguem as pessoas que se a ela convertem» 15 .<br />

Assim, nem sempre é justa a guerra que se faz ao infiel. Àqueles que <strong>não</strong> são, nem<br />

nunca foram, cristãos e preten<strong>de</strong>m <strong>uma</strong> relação pacífica com os Portugueses, <strong>não</strong> é justo<br />

que se faça guerra, porquanto <strong>não</strong> se <strong>de</strong>vem «cativar as pessoas <strong>da</strong>queles que <strong>não</strong><br />

blasfemam <strong>de</strong> Jesus Cristo, nem resistem à pregação <strong>da</strong> sua fé» 16 . Acrescenta ain<strong>da</strong> que<br />

<strong>não</strong> é <strong>de</strong>sculpa «dizer que eles se ven<strong>de</strong>m uns aos outros, que <strong>não</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter culpa<br />

quem compra o mal vendido e as leis h<strong>uma</strong>nas <strong>de</strong>sta terra e doutras o con<strong>de</strong>nam» 17 . Vai<br />

ain<strong>da</strong> mais longe e, partindo do princípio que os maus ven<strong>de</strong>dores só existem por causa<br />

dos maus compradores, consi<strong>de</strong>ra que foram os portugueses os «inventores <strong>de</strong> tão maus<br />

tratos» 18 . Nem mesmo o argumento piedoso <strong>da</strong> salvação <strong>da</strong>s almas, frequentes vezes<br />

invocado pelos que se <strong>de</strong>dicaram ao tráfico e pelos possuidores <strong>de</strong> escravos, merece a<br />

aceitação <strong>de</strong> Fernando Oliveira pois, a ser assim, seria natural que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum<br />

tempo <strong>de</strong> serviço prestado, lhes fosse restituí<strong>da</strong> a liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, o mesmo se aplicando, por<br />

maioria <strong>de</strong> razão, aos nascidos em Portugal e já cristãos. Acresce que tal argumento é<br />

ain<strong>da</strong> tido por menos válido porquanto «muitos <strong>não</strong> ensinam a seus escravos como hão-<strong>de</strong><br />

conhecer nem servir a Deus, antes os constrangem fazer mais o que lhe eles man<strong>da</strong>m, que a lei<br />

<strong>de</strong> Deus nem <strong>da</strong> sua igreja, tanto que nem os <strong>de</strong>ixam ir ouvir missa nem evangelho, nem sabem a<br />

porta <strong>da</strong> igreja <strong>para</strong> isso, nem guar<strong>da</strong>m domingos nem festas» 19 . Aos argumentos assentes na<br />

conversão <strong>para</strong> justificar o tráfico era, <strong>de</strong>starte, retirado qualquer valor.<br />

Apesar <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Oliveira <strong>não</strong> terem merecido a oposição dos<br />

inquisidores, <strong>não</strong> produziram, na época, ecos consi<strong>de</strong>ráveis 20 , mantendo-se os teólogos<br />

15<br />

Padre Fernando Oliveira, A Arte <strong>da</strong> Guerra e do Mar, Lisboa, Ministério <strong>da</strong> Marinha, 1969, p. 23.<br />

16<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 24.<br />

17<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 24.<br />

18<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 24.<br />

19<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 24-25.<br />

20<br />

C. R. Boxer, A Igreja e a Expansão Ibérica, Lisboa, Edições 70, 1990, p. 48.

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