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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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«E assim que on<strong>de</strong> antes viviam em perdição <strong>da</strong>s almas e dos corpos, vinham <strong>de</strong> todo<br />

receber o contrário: <strong>da</strong>s almas, enquanto eram pagãos, sem clari<strong>da</strong><strong>de</strong> e sem lume <strong>de</strong> santa Fé; e<br />

dos corpos, por viverem assim como bestas, sem alg<strong>uma</strong> or<strong>de</strong>nança <strong>de</strong> criaturas razoáveis, que<br />

eles <strong>não</strong> sabiam que era pão nem vinho, nem coberta <strong>de</strong> pano, nem alojamento <strong>de</strong> casa; e o que<br />

peor era, a gran<strong>de</strong> ignorancia que em eles havia, pela qual <strong>não</strong> haviam algum conhecimento <strong>de</strong><br />

bem, somente viver em ociosi<strong>da</strong><strong>de</strong> bestial. [...] E o que melhor era, como já tenho dito, que se<br />

tornavam <strong>de</strong> boas vonta<strong>de</strong>s ao caminho <strong>da</strong> Fé, na qual, <strong>de</strong>pois que eram entrados, recebiam<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira crença, na qual faziam suas fins. Ora ve<strong>de</strong> que galardão <strong>de</strong>ve ser o do Infante ante a<br />

presença do senhor Deus, por trazer assim a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira salvação <strong>não</strong> somente aquestes, mas<br />

outros mui muitos que em esta história ao diante po<strong>de</strong>is achar!» 13 .<br />

Saliente-se ain<strong>da</strong> que na mesma crónica o autor, ao referi-se ao primeiro resgate <strong>de</strong><br />

Antão Gonçalves, explica que os negros escravos dos Azenegues tinham essa condição<br />

<strong>de</strong>vido ao pecado:<br />

«E aqui haveis <strong>de</strong> notar que estes negros, posto que sejam Mouros como os outros, são<br />

servos <strong>da</strong>queles por antigo costume, o qual creio que seja por causa <strong>da</strong> maldição que <strong>de</strong>pois do<br />

dilúvio lançou Noé sobre seu filho Cam, pela qual o maldisse, que a sua geração fosse sugeita a<br />

to<strong>da</strong>las outras gerações do mundo, <strong>da</strong> qual, estes <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>m» 14 .<br />

3. O discurso dos teólogos<br />

O dominicano Fernando Oliveira, embora <strong>não</strong> sendo teojurista, merece aqui<br />

referência por ter sido um dos poucos clérigos portugueses que mais claramente teceu<br />

críticas, <strong>não</strong> só ao tráfico <strong>de</strong> escravos oriundos <strong>da</strong> África Oci<strong>de</strong>ntal, como às justificações<br />

<strong>para</strong> a sua prática, <strong>de</strong>dicando a esta questão todo o capítulo IV <strong>da</strong> primeira parte do seu<br />

manual <strong>de</strong> guerra no mar: Arte <strong>da</strong> Guerra e do Mar (1555).<br />

13 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, pp. 126-127.<br />

14 I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 85.

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