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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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209 polissema 7 2007<br />

“tout signe à l’intérieur du discours qui indique, définit, se rapporte à <strong>de</strong>s mon<strong>de</strong>s, à <strong>de</strong>s<br />

cultures, à <strong>de</strong>s langues extérieurs à lui-même”, o exótico, ao gerar dúvi<strong>da</strong>s e reflexão, faz<br />

com que a protagonista se reveja e compare com lusos e chineses <strong>para</strong> mais tar<strong>de</strong> se<br />

encontrar e <strong>de</strong>finir <strong>de</strong> forma mais segura e consciente, em confronto com o Outro. Se a<br />

protagonista estranha a vivência e o ambiente sínicos do templo, bem como a<br />

indumentária oci<strong>de</strong>ntal que Ignatius enverga ao regressar do mar, os al<strong>de</strong>ões na China<br />

profun<strong>da</strong> também se espantam perante Martha quando esta se <strong>de</strong>sloca à Praia <strong>de</strong> Cacilhas<br />

envergando roupa europeia, esboçando-se neste jogo interactivo <strong>de</strong> espelhos <strong>uma</strong> marca<br />

fun<strong>da</strong>mental do exotismo antropológico e literário: o espanto mútuo e a estranheza face<br />

ao que é diferente. Em CBP, o Outro <strong>não</strong> é apenas objecto do espanto do observador-<br />

viajante europeu, expressando o primeiro também a sua reacção perante o fenómeno <strong>da</strong><br />

alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> e a sugestão do longínquo que o encontro com o oci<strong>de</strong>ntal e a percepção <strong>da</strong><br />

diferença acarretam. Se o narrador <strong>de</strong>screve maioritariamente o espectáculo <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

que Macau representa <strong>para</strong> o europeu, fica também implícito que o fenómeno <strong>da</strong><br />

apreensão do exótico é mútuo, pois o vestuário feminino oci<strong>de</strong>ntal é ‘roupa <strong>de</strong> prostituta’<br />

<strong>para</strong> as mulheres chinesas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e motivo <strong>de</strong> espanto <strong>para</strong> os Hoklo:<br />

[...Martha] an object of astoun<strong>de</strong>d curiosity, a Chinese in European clothes” (288).<br />

A curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> do observador é associa<strong>da</strong> ao exotismo, que rima fonética e<br />

semanticamente com erotismo, encontrando-se o espaço <strong>da</strong> acção repleto <strong>de</strong> provas <strong>de</strong>ssa<br />

rima, pois o fascínio dos europeus pelas mulheres orientais, a miscigenação, as escravas<br />

importa<strong>da</strong>s do Império Português e a prostituição são temas relacionados com o<br />

ostracismo social, o género e a diferença cultural (76, 79, 89, 99, 110, 139, 174, 200). O<br />

olhar perante o exótico é por isso mesmo um olhar antropológico marcado pelo<br />

sentimento <strong>de</strong> pertença, processo que Tzevtan Todorov (19 82: 254) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong><br />

exotopia e que tem lugar num espaço periférico, on<strong>de</strong> se dá o confronto com o Outro,<br />

presente, do ponto <strong>de</strong> vista do leitor oci<strong>de</strong>ntal, logo na capa <strong>de</strong> CBP através do retrato <strong>de</strong><br />

Marta.

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