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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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248 polissema 7 2007<br />

melhorar em na<strong>da</strong> a sua performance linguística e informativa ao nível textual<br />

por <strong>de</strong>srespeitar a rima nos dois versos iniciais, muito pelo contrário, consegue tão<br />

somente <strong>de</strong>struir a coesão estrutural e semântica do seu texto, que tem óbvias<br />

pretensões líricas.<br />

O texto literário é um artefacto materializado n<strong>uma</strong> textura, isto é, n<strong>uma</strong> sequência<br />

linear <strong>de</strong> signos em que se realiza e se manifesta a sua coesão formal e semântica – <strong>uma</strong><br />

coesão formal e semântica que representa, a nível <strong>da</strong> estrutura <strong>de</strong> superfície do texto, a<br />

actualização <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estrutura textual profun<strong>da</strong> <strong>de</strong> natureza semântica... 1<br />

In other words, in establishing a set of methodological criteria to follow, the translator<br />

has focused on some elements at the expense of others and from this failure to consi<strong>de</strong>r the<br />

poem as an organic structure comes a translation that is <strong>de</strong>monstrably unbalanced. 2<br />

Esta falta <strong>de</strong> harmonia torna-se ain<strong>da</strong> mais flagrante quando o leitor atento<br />

re<strong>para</strong> que a atenção presta<strong>da</strong> pelo tradutor à forma externa é leva<strong>da</strong> tão longe que<br />

mantém a simbologia <strong>de</strong> caracteres como o &, assim como a pontuação do original, o<br />

que acaba por se revelar como <strong>uma</strong> escolha erra<strong>da</strong> porque põe em causa as regras <strong>de</strong><br />

pontuação <strong>da</strong> língua portuguesa ao se<strong>para</strong>r o sujeito do verbo principal <strong>da</strong> oração:<br />

E que braço, & que arte,<br />

Pô<strong>de</strong> o coração talhar-te?<br />

O facto <strong>de</strong> a poesia se reger por regras <strong>de</strong> criação e liber<strong>da</strong><strong>de</strong> artística <strong>não</strong><br />

justificará <strong>uma</strong> opção <strong>de</strong> tradução que resulte na subversão tão agu<strong>da</strong> <strong>de</strong> regras aceites<br />

pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> linguística à qual o texto se dirige. As soluções mais apropria<strong>da</strong>s a<br />

este nível são, a meu ver, as consegui<strong>da</strong>s pelo texto C, que sugere <strong>uma</strong> fase <strong>de</strong><br />

distanciação posterior à elaboração <strong>da</strong> tradução que terá permitido ao tradutor escapar<br />

ao “jugo” do original e <strong>de</strong>sse modo evitar marcas <strong>de</strong> “estrangeirismos”. Disto mesmo<br />

fará prova logo o primeiro verso <strong>da</strong> primeira quadra (os pontos <strong>de</strong> exclamação<br />

transformam-se em vírgulas, que dão ao verso a neces<strong>sá</strong>ria pausa e à palavra tigre o<br />

neces<strong>sá</strong>rio relevo, sem a <strong>de</strong>svantagem <strong>da</strong> <strong>de</strong>masia<strong>da</strong> e pouco natural expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

empresta<strong>da</strong> pelos pontos <strong>de</strong> exclamação presentes ain<strong>da</strong> no texto B e pelo uso <strong>de</strong><br />

maiúsculas que é comum aos textos A, B e D). Não posso, no entanto, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

1 Op. cit., Teoria <strong>da</strong> Literatura., pág. 294.<br />

2 Op. cit., Translation Studies: Revised Edition., pág. 82.

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