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para uma leitura não-biográfica da obra de mário de sá-carneiro

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i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, inclusão e exclusão, que possibilita a enunciação <strong>de</strong> vozes dissi<strong>de</strong>ntes<br />

conferindo assim, autori<strong>da</strong><strong>de</strong> ao hibridismo cultural (Bhabha, 2001: 25-26), entendo que<br />

se aquela negociação ce<strong>de</strong>u espaço ao conformismo expresso na aceitação do imaginário<br />

mo<strong>de</strong>rnizador, também possibilitou a manifestação <strong>de</strong> vozes dissonantes na socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

brasileira. Nessa compreensão posso enten<strong>de</strong>r porque Lima Barreto publicou em<br />

folhetim, O Triste Fim <strong>de</strong> Policarpo Quaresma, em 1911; o diálogo entre doutor<br />

Campos, político <strong>de</strong> Curuzu e Quaresma sobre as eleições: “Como o Major sabe, as<br />

eleições se <strong>de</strong>vem realizar por estes dias. A vitória é nossa... To<strong>da</strong>s as mesas estão<br />

conosco, exceto <strong>uma</strong>... aí mesmo, se o major quiser...”. Respon<strong>de</strong> o narrador: “mas,<br />

como se <strong>não</strong> sou nem eleitor, <strong>não</strong> me meto, e nem quero meter-me em política” (Barreto,<br />

1993: 87). Esta é <strong>uma</strong> evi<strong>de</strong>nte <strong>sá</strong>tira que faz Lima Barreto aos filhos <strong>da</strong> classe dominante<br />

brasileira do XIX, que buscam as novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s teóricas <strong>da</strong> Europa, <strong>não</strong> <strong>para</strong> adotá-las em<br />

seu país <strong>de</strong> origem, mas <strong>para</strong> u<strong>sá</strong>-las como instrumento <strong>de</strong> naturalização e preservação do<br />

po<strong>de</strong>r político que tinha como esteio a or<strong>de</strong>m e o progresso bem como o po<strong>de</strong>r pessoal.<br />

Esse <strong>de</strong>sejo e prática <strong>de</strong> manutenção do po<strong>de</strong>r político e pessoal pela elite, <strong>para</strong> Schwarz<br />

(1990: 22) seria o respon<strong>sá</strong>vel pela falta <strong>de</strong> transparência social, imposta pelo nexo<br />

colonial e pela <strong>de</strong>pendência que veio continuá-lo, nos primórdios republicanos.<br />

No terreno <strong>da</strong> literatura, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Império, os literatos elaboraram um projeto<br />

literário que fortalecia a luta pela construção <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional, ao qual <strong>de</strong>ram<br />

continui<strong>da</strong><strong>de</strong> no período republicano. As letras foram um meio utilizado por eles <strong>para</strong><br />

naturalizar a idéia <strong>de</strong> um país que eles, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> ain<strong>da</strong> <strong>não</strong> tinham podido criar. E os<br />

textos <strong>de</strong> muitos escritores <strong>da</strong> época revelaram esse intuito <strong>de</strong> imaginar <strong>uma</strong> nação<br />

objetivando a afirmação <strong>de</strong> um projeto que chamou <strong>para</strong> si a missão <strong>de</strong> conferir uni<strong>da</strong><strong>de</strong> a<br />

um país cortado por fen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as or<strong>de</strong>ns: diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> étnica, coexistência <strong>de</strong> vários<br />

tempos culturais num só espaço geográfico, <strong>de</strong>ntre outros, vetores que dinamizaram a<br />

organização do país na busca <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional. Na República, a elite forjou, e<br />

ao mesmo tempo procurou ocultar essas divisões ain<strong>da</strong> sensíveis em seu tecido social.<br />

Assim, coube aos escritores, enquanto representantes <strong>da</strong> elite intelectual, o papel <strong>de</strong> gerir<br />

um capital simbólico que pu<strong>de</strong>sse encobrir as marcas <strong>da</strong> cisão e <strong>da</strong> <strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong>

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