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arte. Como este quadro foi pensado de início para o estudo e a atuação<br />
no campo da Política Cultural, onde é vital saber se o que está em jogo<br />
é uma obra de cultura ou uma obra de arte (sobretudo porque o que<br />
se busca não é apenas entender o mundo mas mudá-lo), em princípio<br />
P indicará um modo de formulação, manifestação e operação de Política<br />
Cultural. Mas, não precisa fazê-lo de maneira exclusiva: pode significar<br />
um sistema de operações numa sala de aula (um programa de<br />
educação), numa situação de formação e orientação de um grupo de<br />
canto coral ou de qualquer outra atividade de grupo em situação de<br />
estimulação da criatividade. No mesmo quadro, D indica o Discurso da<br />
cultura ou da arte (de um modo de cultura determinado, de uma arte<br />
determinada, de uma obra de cultura, de uma obra de arte) e d, o<br />
discurso sobre a cultura ou sobre a arte correspondente; está claro que<br />
o discurso sobre um modo da cultura ou da arte frequentemente influi<br />
de modo decisivo na substância (a estrutura, a organização, a atuação)<br />
de uma manifestação da cultura ou da arte ou em seu entendimento,<br />
razão pela qual em um ou outro momento se fará referência também<br />
a esse discurso 58 .<br />
Em um estudo sobre Michelangelo, Georg Simmel 59 reconhece,<br />
mais do que adverte, que “En la base de nuestro ser espiritual habita, a<br />
lo que parece, un dualismo que nos impide comprender el mundo,<br />
cuya imagen se proyecta en nuestra alma, como una unidad,<br />
descomponiéndolo sin cesar en pares antagónicos.” A ideia de<br />
antagonismo em Simmel é bem menos negativa do que à primeira<br />
vista parece e do que na vem <strong>def</strong>endido pela quase totalidade dos<br />
autores de extração iluminista. Menos negativa ou nada negativa. De<br />
fato, em Simmel é do antagonismo que surge aquilo que realmente<br />
interessa. O antagonismo, o conflito, não é para ser eliminado mas<br />
para ser aproveitado heuristicamente. É nesse sentido que o quadro<br />
mencionado será organizado em termos de uma polaridade inicial que,<br />
não estando como tal, em seu aspecto literal, em condições de dar<br />
conta da real complexidade dos fatos, permite em todo caso o<br />
desenvolvimento da investigação tentativa. Ao final se fará uma<br />
necessária e inevitável relativização do métod<br />
58 Por vezes o discurso da obra de cultura ou de arte (D, o discurso cultural ou artístico<br />
propriamente dito) confunde-se com o discurso sobre a obra de cultura ou arte). Melhor:<br />
o inverso. Na pós-modernidade, o discurso sobre a cultura ou arte pode assumir a forma<br />
de um discurso da arte, um discurso artístico (o que significa que pode ser um discurso<br />
de tipo divergente). E um discurso sobre a arte pode contrariar a natureza de seu objeto<br />
e apresentar-se como um discurso convergente quando deveria ser tão divergente<br />
quanto a arte de que fala.<br />
59 In Sobre la aventura: ensayos de estética (Barcelona: Ed. Península, 2001).<br />
“<strong>CULTURA</strong> É A REGRA; ARTE, A EXCEÇÃO” 119