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apresentar, é aquela cultura que outras culturas procuram de algum<br />
modo imitar. Nesse sentido, na história mais ampla da humanidade<br />
foram poucas as civilizações: entre elas, a romana, na antiguidade, e a<br />
norte-americana ao longo do século 20 a partir da primeira guerra<br />
mundial. Insisto num ponto: uma civilização não se impõe, se copia.<br />
Não há possibilidade de impor-se pela força um modo civilizatório.<br />
Pela força é possível impor o cumprimento de alguns dos princípios<br />
rígidos dessa civilização (que por querer impor-se nunca o será de<br />
fato), nada além disso. Ainda que se tente difundir uma civilização<br />
por todos os meios disponíveis, ela somente será de fato uma<br />
civilização caso se proponha como modelo desejável, isto é, se as<br />
pessoas encontrarem em seus traços, e a seu ver, as condições de<br />
preparação de uma vida mais adequada, com mais qualidade, que<br />
lhes permita um maior ou melhor desenvolvimento de suas<br />
capacidades e uma resposta mais adequada a suas necessidades e<br />
desejos. Nesse sentido, não se pode falar, por exemplo, numa<br />
civilização nipônica, alemã, russa ou soviética: não foram<br />
historicamente vistas como modelos desejáveis. É irrelevante<br />
determinar se foram bem compreendidas ou não, se “objetivamente”<br />
continham ou contêm elementos desejáveis: importante é que não<br />
conquistaram o desejo mais profundo de outras culturas. Seria<br />
possível por outro lado, a título de exercício, propor que culturas<br />
localizadas mostram-se inclinadas a seguir padrões de outras culturas<br />
que lhes parecem civilizações ainda que estas não sejam vistas do mesmo<br />
modo por outras culturas; no Brasil, por um período em particular entre o<br />
final do século 19 e o início da segunda metade do século 20, a cultura<br />
francesa surgiu como modo civilizacional indiscutível. Algo semelhante<br />
ocorreu no Egito em relação a essa mesma cultura, sem que ela no entanto<br />
chegasse a apresentar-se como um modelo civilizacional global com as<br />
mesmas dimensões da romana em seu momento e da norte-americana<br />
agora. Fala-se, ainda, desde o ponto de vista de um modo de vida (de<br />
qualidade de vida) numa civilização europeia, quando na verdade o que se<br />
tem em mente é a civilização de uma parte da Europa, quase sempre e<br />
quase unicamente a parte mediterrânea da Europa — civilização<br />
dificilmente imitável porque seus componentes físicos, geográficos, são<br />
“duros” demais, localizados demais, motivo pelo qual se diz que se trata<br />
de uma civilização com o valor de um vetor utópico para várias culturas<br />
(meta a perseguir porém nunca materializável) ao passo que a civilização<br />
norte-americana revela-se implementável em outras terras em sua<br />
característica de civilização transportável, móvel, mole, mais ainda do<br />
que o foi a romana...<br />
38 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong>