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INTRODUÇÃO<br />
O OUTRO LADO DA <strong>CULTURA</strong> - E A ARTE<br />
A segunda metade do século 20 viu a ascensão da ideia de cultura<br />
a um duplo primeiro plano: aquele dos programas de governo de<br />
algumas nações desenvolvidas (com a cultura já agora<br />
consideravelmente despida dos tons e do papel ideológicos que a<br />
haviam marcado na mesma função política ao longo das primeiras<br />
quatro décadas desse mesmo século) e o da cena dos negócios, em<br />
vários desses mesmos países. Assim, depois de um momento em que<br />
a presença da cultura nos programas de governo de países como União<br />
Soviética, Alemanha nazista, Itália fascista e o Brasil do Estado Novo<br />
getulista (1937-1945) assinalou-se por um conteúdo fortemente<br />
ideológico — e social, como se diz — intolerante e discriminatório, na<br />
França criou-se ao final dos anos 50 o ministério da cultura cujo primeiro<br />
ocupante, o escritor e militante político André Malraux, comprometerase<br />
com o resgate da dignidade humana massacrada com os ainda<br />
recentes desdobramentos da II Guerra Mundial e humilhada na guerra<br />
civil espanhola com suas inúmeras atrocidades, entre elas o bombardeio<br />
da cidade basca de Guernica pela aviação alemã pró-Franco. Do<br />
surgimento do ministério de cultura francês decorreu não apenas a<br />
reafirmação da intervenção constante do Estado sobre a cidade de<br />
Paris mas também, e este é o fato relevante, o início de uma rede de<br />
canais culturais que descentralizou e desconcentrou a produção e<br />
distribuição da cultura até aquele momento preferencialmente situadas<br />
e sitiadas na capital do país. E no outro plano, o dos negócios ou do<br />
mercado, foi assim que a cultura tornou-se gradativa e firmemente um<br />
dos maiores motores da economia do país que ainda é o centro<br />
econômico do mundo, os EUA, onde um único domínio da produção<br />
cultural, o audiovisual, vem sendo reiteradamente um dos dois<br />
principais setores (junto com a indústria aeronáutica) mais significativos<br />
em termos de montante de recursos gerados, e onde, em 1996, a soma<br />
total do produto cultural (audiovisual, livros etc.) correspondeu ao<br />
primeiro lugar da lista dos componentes dessa mesma obsessão<br />
contemporânea, o PIB, produto interno bruto.<br />
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