10.05.2013 Views

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

everso da civilização, não tem condições de apresentar-se como o<br />

melhor instrumento.<br />

Esta acepção da cultura como conjunto de representações e<br />

práticas que contribui para a formação, o fortalecimento e a<br />

manutenção do tecido da vida social de um determinado grupo<br />

humano surge com nítida delineação nas palavras de Raymond<br />

Williams (1921-1988), para quem a cultura é um sistema de<br />

significação pelo qual uma ordem social é vivida, explorada,<br />

comunicada e reproduzida 15 . É verdade que quando se dá essa<br />

descrição funcional da cultura não se está pensando que há uma<br />

parte da cultura, a arte, que, pelo menos a partir da modernidade,<br />

não procura assumir esse papel e mesmo o repele antes de mais<br />

nada no interior da própria cultura ao qual “pertence” . Mas a esse<br />

ponto se voltará mais adiante; por ora se destacará essa<br />

compreensão da cultura, de fato predominante desde a segunda<br />

parte do século 19 e ao longo de todo o século 20. Das três acepções<br />

clássicas da cultura — cultura como as artes, cultura como qualidade<br />

de vida ou civilização e cultura como cimento da vida social — é esta<br />

última que foi vista (e em parte continua sendo, embora isso já se<br />

esteja corrigindo) como a determinante. Em outras palavras, foi tido<br />

como mais importante que a cultura funcione antes como elo social,<br />

matéria de comunicação e reprodução de uma dada ordem social<br />

(donde, e é bom frisar desde logo, o caráter profundamente<br />

conservador e mesmo, eventualmente, reacionário de toda cultura,<br />

independentemente de seu conteúdo eventual) do que sirva para o<br />

aprimoramento da qualidade de vida ou surja como o espaço de<br />

estimulação de obras de refinamento do espírito e, menos ainda, de<br />

estimulação de obras de refinamento crítico do espírito. Quando o que<br />

está em jogo é a reprodução de uma dada ordem social, o espírito<br />

crítico não é bem-vindo, de modo que, historicamente, nessa<br />

perspectiva e segundo seus adeptos, o terceiro sentido de cultura<br />

deveria prevalecer sobre o segundo e estes dois, sobre o primeiro. Essa<br />

tendência cristalizou-se na formulação de Durkheim (1858-1917), para<br />

quem a sociedade (com suas estruturas todas) tem prioridade e<br />

precedência sobre o indivíduo. Até agora, em todo caso. Seja como for,<br />

e sendo assim, — e aqui se toca no ponto que este parágrafo procura<br />

salientar — um agente e uma fonte de cultura surgiam a cavaleiro<br />

sobre as demais: o Estado. Para muitos autores, sobretudo os de<br />

inspiração marxista ou neomarxista mas também para os que estiveram<br />

na origem das proposições fascistas, e os que seguem determinadas<br />

15 Keywords, Londres: 1976.<br />

42 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!