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A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

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mais “imoral” que se mostre, como no carnaval, reforça as instituições<br />

— as da cultura mas também as mais amplas, as ditas sociais. A obra de<br />

arte dirige-se ao indivíduo antes que à comunidade: não<br />

necessariamente visa alguém em particular, mas se visa alguém é às<br />

pessoas, à pessoa, não às instituições (não mais às instituições, em<br />

todo caso — o que significa que obras de arte de outros momentos<br />

históricos devem ser analisadas de modo distinto, de um modo de<br />

alguma maneira diverso). (Mesmo quando, em certos momentos<br />

históricos, foi feita para atender às instituições, como no caso da arte<br />

italiana do século XVI, a obra de arte contém um grau de personalidade<br />

individual que necessariamente, ou quase, viola o programa das<br />

instituições ou com ele colide ou a ele contesta).<br />

Deste ângulo, o programa para o cultural correspondente será<br />

outra vez de caráter sociocultural, visará o coletivo e no fundo pode<br />

dizer-se como sendo tipicamente, por mais que isso possa espantar, de<br />

assistência social (está aí, de fato, a habitual justificativa política,<br />

administrativa, para seu subsídio, como no caso dos incentivos fiscais<br />

para a cultura tais como <strong>def</strong>inidos e praticados no Brasil). De seu lado,<br />

um programa para a obra de arte levará em conta o indivíduo, as<br />

pessoas a que se destina individualmente consideradas: suas<br />

preocupações, suas proposições serão essencialmente estéticas.<br />

GERATRIZ necessidade direitos culturais<br />

política provedora<br />

124 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong><br />

desejo<br />

liberdade<br />

discricionário<br />

cooperativo<br />

Nos anos 60 um livro de leitura generalizada, ou obrigatória, era A<br />

necessidade da arte do autor de inspiração marxista Ernst Fischer. A<br />

ninguém, então, ocorreria imaginar que necessária era a cultura<br />

mas não a arte. Esse era o paradigma. A ideia de que a vida é possível<br />

sem arte, embora não sem cultura, costuma chocar os novos tempos<br />

esclarecidos. Toda a argumentação em favor de mais arte, feita junto<br />

a quem pode pagar por ela, governos e iniciativa privada, baseia-se<br />

na ideia de que a arte é necessária, vital, e que sem ela, no discurso<br />

culturalmente correto de hoje, não é possível perseguir o chamado<br />

“desenvolvimento sustentado” nem ao menos viver em uma<br />

comunidade que se pretenda de algum modo civilizada: a<br />

argumentação talvez tenha de ser essa, taticamente, mas não é<br />

preciso que seja tomada, por quem a esgrime, ao pé da letra: é possível<br />

viver sem arte. Imaginou-se, um tempo (e talvez ainda se imagine), que<br />

nas sociedades primitivas o conceito de arte não existia, pelo menos<br />

sob a forma de produção autoral, de obra que traz a marca distintiva de<br />

uma personalidade, de coisa diferenciada e que busca diferenciar-se. Noção

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