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A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

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põe a nu uma evidência que, exatamente por isso, se procura ocultar: a<br />

de que a sociedade existe para o Estado. Não tem qualquer sentido<br />

repetir o chavão demagógico de que o Estado existe para a sociedade:<br />

nas sociedades ironicamente ditas civilizadas ou desenvolvidas, aquelas<br />

que têm o que chamamos de História, e como mostra a História, a<br />

sociedade existe para o Estado, de um modo não encontrado nas<br />

sociedades ditas primitivas onde, como investigou Clastres, as pessoas<br />

seguem o chefe apenas enquanto lhes é conveniente e lhe viram as<br />

costas, de modo <strong>def</strong>initivo e imediato, assim que suas palavras ou ações<br />

não interessam ao grupo... Retomando, não creio que a solução seja o<br />

fim total do Estado. Sua despolitização, e por conseguinte a<br />

despolitização da sociedade, sim, é um começo — e estou outra vez<br />

com Antonio Negri quando ele reconhece que a despolitização do<br />

mundo por parte dos grandes poderes não é em si uma operação<br />

negativa quando se volta para a eliminação e desmoronamento de<br />

velhos poderes e formas de representação que não tem mais referência<br />

real. O Estado está enfraquecido, é uma realidade. E não apenas porque<br />

o Mercado toma as rédeas. O Estado está enfraquecido por sua forma<br />

não se ter adaptado às exigências complexas da sociedade e porque a<br />

sociedade está mais e mais desiludida quanto à possibilidade de, com<br />

esse instrumento, viabilizar aquilo que procura alcançar. Os sinais da<br />

deterioração desse apego da sociedade à sociedade política traduzida<br />

ou resumida na figura do Estado estão por toda parte, do Irã que precisa<br />

proibir o uso de antenas parabólicas assim como se fazia do lado de lá<br />

do Muro de Berlim enquanto ele ainda esteve em pé, à China que fecha<br />

os cibercafés, passando pela Coreia do Norte proibindo agora o uso<br />

dos telefones celulares certamente movida pelo exemplo de<br />

mobilização civil da Espanha em março de 2004 quando o poder<br />

arrogante do governo Aznar foi desnudado e destroçado, na sua<br />

derrota eleitoral, graças à rede informal, em ação típica da sociedade<br />

civil, armada pelos quase mágicos aparatos 38 . Isso tudo sem contar o<br />

recurso continuado de governos vários, de lá e de cá, à figura do<br />

marketeiro político, chamado a participar de reuniões ministeriais para<br />

38 Este fato, que deve entrar para a história das relações entre tecnologia e política, desmente<br />

a tese de que a sociedade civil tende a desmanchar-se nos buracos das redes eletrônicas<br />

contemporâneas, restando de um lado apenas as individualidades mutuamente afastadas<br />

e, de outro, as corporações sem centro e eventualmente algum Estado ou o que restou<br />

do Estado. Os acontecimentos de Espanha no que se convencionou chamar de pós 11-M<br />

(onze de março, dia do atentado praticado por terroristas islâmicos contra diversos<br />

trens metropolitanos ao redor de Madrid) indicam que a sociedade civil se organiza e<br />

se reúne e se dispersa conforme a densidade dos interesses comuns em jogo — e<br />

demonstra em todo caso que de modo algum ela está <strong>def</strong>initivamente pulverizada ou<br />

inerte.<br />

UMA <strong>CULTURA</strong> PARA O SÉCULO 73<br />

<strong>CULTURA</strong>,<br />

TECNOLOGIA,<br />

SOCIEDADE CIVIL

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