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A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

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pós-modernas, que passam a dispensar o objeto para existir, também<br />

a cultura é desobjetificada: dispensa um objeto específico, como uma<br />

pintura ou uma arca velha); o que se pode chamar de cultura é um<br />

processo, uma elaboração contínua, feita pelas pessoas, e antes poderia<br />

ser chamada de o cultural do que propriamente de cultura. Partindo<br />

desse princípio, a chamada “escola” de Palo Alto, durante os anos 50 do<br />

século 20 (Gregory Bateson, 1904-1980, é um nome expoente aqui),<br />

desenvolve uma antropologia da comunicação envolvendo tanto a<br />

comunicação verbal tradicional como a comunicação não verbal que,<br />

nos anos 60 daquele mesmo século, se transformaria em objeto<br />

prioritário de estudo. Nesse esquema, a comunicação não é vista como<br />

uma relação entre uma fonte (emissor) e um receptor, como nos já<br />

clássicos modelos de estudo da comunicação, mas como um processo<br />

de tipo orquestral no qual alguns indivíduos se reúnem para tocar<br />

juntos, ao redor de uma partitura ou de improviso, numa situação de<br />

interação onde tanto o conjunto como cada um de seus participantes<br />

fará uma interpretação particular do tema que poderá ser menos ou<br />

mais análoga a uma outra já feita anteriormente. Embora uma partitura,<br />

um guia, uma trilha possa estar ali, o resultado — a cultura — só existirá<br />

graças à interação performática dos participantes. O sentido da cultura<br />

será aquele que lhe for impresso pelos participantes. Cada contexto de<br />

“execução”, de performance, terá suas regras e convenções, pressuporá<br />

expectativas e capacidades distintas de cada um dos que se<br />

apresentarem para tocar e provocará um resultado específico. A cultura<br />

se mostra, neste quadro, como uma entidade instável por natureza e<br />

que se materializa fenomenologicamente a cada execução. Os<br />

contrastes entre cultura e subcultura ou entre cultura superior e cultura<br />

popular podem aqui teoricamente esfumar-se e nesse desenho assume<br />

um papel preponderante aquilo que se revela ser a cultura local do<br />

grupo, para este eventualmente mais significativa que a cultura ampla<br />

que se desenvolve ao largo dessa comunidade. 12<br />

O entendimento da comunicação interativa é estimulante mas não<br />

chega a abolir de todo esquemas como o de Bourdieu. Queira-se ou<br />

não, para o que há de bom nisso e para o que há de mau nisso, a<br />

cultura também se formaliza, se cristaliza, independentemente de uma<br />

dinâmica que lhe dê sentido corrente, em lugares ou topos (mesmo<br />

imateriais) bem determinados, como o museu, e em objetos e<br />

proposições sobre cujo significado o indivíduo e o grupo têm influência<br />

apenas reduzida e, quando a têm, a têm sob um ângulo marcadamente<br />

particular, privado, individual, sem ascendência sobre o outro universo<br />

12 Ver, no cap. 3, as distinções entre cultura objetiva e cultura subjetiva.<br />

34 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong>

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