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A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

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todo indivíduo é dinâmica”. Se a identidade cultural de todo indivíduo<br />

é dinâmica, o que inclui seus vetores mais imateriais tanto quanto<br />

aquele bem material (apesar de não ser assim chamado) que é a<br />

língua, não se entende como poderia ser possível, e menos ainda<br />

desejável, uma secretaria de Estado que busque preservar essa<br />

identidade. A ideia da preservação e a noção de dinâmica são<br />

antitéticas. No limite, o único modo de preservar algo que é<br />

dinâmico e que, portanto, não se sabe para onde vai e do qual por<br />

conseguinte não se sabe o que se poderá preservar, seria apoiar e<br />

preservar ao acaso todas as formas da diversidade como única<br />

probabilidade de favorecer aquele dinamismo. Apoiar a diversidade,<br />

porém, além de não ser o que essas providências de fato buscam,<br />

tornou-se rigorosamente impossível, materialmente, fisicamente<br />

impossível (para não mencionar o aspecto ideológico relativo ao<br />

conteúdo) do ponto de vista de uma política cultural de Estado, dado o<br />

leque imenso de opções. E se por preservar a identidade cultural o que<br />

se entender for o apoio às tradições culturais firmadas e tabelionadas<br />

(pois se trata nesse caso de uma cultura de tabelião, a cultura notarial,<br />

nome verdadeiro de muito do que se apresenta sob o rótulo de<br />

patrimônio histórico e cultural e que é aquela que expede “certificados<br />

de origem” e “de validade” do produto cultural), vale a pena mais uma<br />

vez ouvir diretamente a Antonio Negri, sob mais de um aspecto<br />

insuspeito. É radical sua aversão à cultura arcaica, quer isso se refira ao<br />

modo e tempo de vida do trabalho tradicional, agrícola ou artesanal,<br />

quer à representação mais estritamente cultural, uma e outra<br />

“encarnadas em mitos não efetivos”, quer dizer, em mitos que não mais<br />

têm ascendência sobre o real. Sua posição a respeito não admite meiasmedidas<br />

nem meias-verdades: não há mais espaço para a nostalgia da<br />

<strong>def</strong>esa do Estado-Nação, “daquela barbárie absoluta de que deram<br />

prova <strong>def</strong>initiva Verdun e o bombardeio de Dresden., Hiroshima e<br />

Aschwitz”, lista à qual eu acrescentaria os atos, em catadupa, da URSS,<br />

da China maoísta, do Estado pinochetista e do Estado dos ditadores<br />

brasileiros cunhadores daquele Brasil do “Ame-o ou deixe-o” que uma<br />

conhecida rede nacional de televisão transformou em grito primal de<br />

afirmação patrioteira que continua em vigor hoje, 30 anos após o<br />

momento de sua criação, 20 anos depois do fim do período em cujo<br />

seio nasceu. O Estado-Nação, continua Negri, nada mais é que uma<br />

ideologia falsa e danosa, à qual se opõem as redes de movimentos<br />

que, “como tudo aquilo que acontece livremente no mundo”, são<br />

múltiplas e diferenciadas. Toda tentativa de impedir o desdobramento<br />

desses movimentos, esses realmente libertários, é reacionária e<br />

UMA <strong>CULTURA</strong> PARA O SÉCULO 77

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