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impressionismo etc.). O que num momento surge como incoerência<br />
organiza-se, é obvio, numa nova estrutura que, prevê-se, rapidamente<br />
terá de <strong>def</strong>rontar-se com um novo agenciamento, uma nova disposição<br />
das coisas, uma nova iniciativa. O temor de alguns espíritos<br />
conservadores, de inspiração marxista ou outra, de que é um mal o<br />
desvinculamento dos atores sociais das antigas estruturas que os<br />
sustentavam e lhe davam sentido (em especial o Estado e os partidos<br />
políticos) não se funda em nenhuma evidência: não há por que recear<br />
uma incapacidade da sociedade civil de reorganizar-se segundo novos<br />
padrões; apenas um autoritarismo e um paternalismos larvares,<br />
latentes, sempre prestes a acordar e mostrar garras que buscam antes<br />
de mais nada preservar os próprios interesses, podem ainda pretender<br />
e difundir o contrário. Nem o fato de ser esse programa uma afirmação<br />
ou reafirmação do indivíduo diante do coletivo levará por si só e<br />
necessariamente à diluição social; o que se questiona são os sistemas<br />
especialistas de organização da sociedade que estão aí, tanto quanto<br />
aquela hierarquia inicial que, no caso da cultura, afirmava a hegemonia<br />
da ideia de cultura como construção social do social sobre a ideia de<br />
cultura como campo de espalhamento, para dizer assim, do universo do<br />
indivíduo. Se há um território em que a reflexão pós-moderna procura<br />
fazer valer seus princípios é não apenas o da autonomia da cultura<br />
diante do fato econômico como, e na verdade essencialmente, o da<br />
centralidade da cultura diante da economia, uma proposição que além<br />
de seus efeitos imediatos óbvios (a economia é uma questão de cultura,<br />
não o inverso) tem por consequência o fato de que não se pode<br />
transpor para a cultura aspectos da ação sobre a economia. Não se<br />
pode concluir que a cultura pós-moderna libertada da tutela do Estado<br />
cairá inevitavelmente no caos , na exaustão e na incoerência. O que se<br />
deve buscar é uma nova sinergia entre cultura e sociedade, uma nova<br />
sinergia entre uma cultura que se renova mais fácil e rapidamente do<br />
que muitas outras estruturas da sociedade e que exatamente por isso<br />
pode servir de locomotiva para um real e efetivo outro mundo.<br />
48 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong>