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A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

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Nesse quadro, um programa de apoio à produção ou distribuição<br />

da cultura ou um programa de transmissão da cultura — em suma,<br />

uma política cultural — para uma obra de cultura será forçosamente<br />

de natureza, como se diz, sociocultural, isto é, atenderá tanto (por vezes)<br />

à especificidade do cultural em jogo quanto do coletivo, da comunidade,<br />

da sociedade envolvida: não raro, atenderá mais ao coletivo do que ao<br />

propriamente cultural. (Conforme se desdobrem os comentários às<br />

diversas categorias deste quadro, os elementos e a qualidade dessa<br />

política cultural ou desse programa se tornarão mais claros).<br />

Correspondentemente, um programa para uma obra de arte, para a<br />

arte, visará especifica e primordialmente as questões próprias do<br />

artístico, do estético e do sujeito individual, da pessoa, da personalidade<br />

que a organiza e nela se projeta e daquela que à obra se expõe, como<br />

observador. Seria de todo impróprio falar-se num programa de natureza<br />

socioartístico, como de fato não se fala: o inconsciente aplicável ao caso<br />

parece dar-se conta, corretamente, de que social só pode ser a cultura, o<br />

social só pode ser para a cultura. Dito de outro modo: na pósmodernidade,<br />

e foi preciso esperar muito para chegar-se a isso, desde<br />

o discurso hegemônico em contrário ao tempo da modernidade, ficaram<br />

claras a possibilidade e a propriedade de dizer que a obra de arte se<br />

dirige antes de mais nada ao indivíduo: a comunidade, como um todo<br />

(e como uma abstração) já tem um estoque abundante de obras de<br />

cultura que lhe são dirigidas. Consequência: um programa para a obra<br />

de arte não pode estruturar-se do mesmo modo que um programa<br />

para uma obra de cultura. (Organizar uma política cultural para a arte<br />

é, desde o início e no limite, buscar um modo de contrariar a<br />

especificidade da arte; a política cultural é para a cultura; para a arte<br />

seria o caso de falar-se numa política para a arte, simplesmente, já que<br />

soa inadequada a expressão política artística.)<br />

DESTINATÁRIO comunidade/<br />

sociedade>indivíduo<br />

as instituições<br />

sociocultural<br />

coletivo<br />

assistência social<br />

indivíduo><br />

comunidade<br />

as pessoas<br />

Uma obra de cultura não se destina a um indivíduo isolado: não<br />

tem sentido para um indivíduo isolado, não acontece para um<br />

indivíduo isolado: o carnaval. Dirige-se a uma comunidade:<br />

eventualmente, não a uma comunidade universal, não ao universal<br />

mas ao particular: o carnaval que, como praticado no Rio ou na Bahia,<br />

não tem lugar em Boston ou em Madrid. Tendo por destinatário uma<br />

comunidade, a obra de cultura (o cultural) dirige-se a uma sociedade, à<br />

qual reforça em seus mitos: o cultural tem por meta as instituições: por<br />

“<strong>CULTURA</strong> É A REGRA; ARTE, A EXCEÇÃO” 123<br />

individual<br />

estético

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