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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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comunidade. Daí a pluralização das lutas, isto é, enquanto uns buscam a integração<br />

social, outros, como as lésbicas, pelejam pela construção de comunidades próprias.<br />

Este relato nos leva a refletir <strong>sobre</strong> o quanto a homossexualidade é atravessada<br />

por dimensões de classe, gênero, etnia, raça, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade etc. Um dos exemplos<br />

desse atravessamento, no que se refere às identidades sexuais e de raça, pode<br />

ser encontrado em Perlongher ( 987: 4 ), em que são descritas manifestações do<br />

“racismo homossexual” entre michês (sujeitos da prostituição viril) e clientes negros:<br />

“pode se dar o caso de um michê branco aceitar um ‘caso’ com uma bicha negra,<br />

para ganhar comida, moradia etc., mas se recusando a transar: ‘saca<strong>na</strong>gens das quais<br />

os michês se orgulham’”.<br />

O advento da Aids, nos anos 80, determinou a intensificação do preconceito<br />

contra os homossexuais, e a própria homossexualidade masculi<strong>na</strong> acabou por se<br />

transformar num sinônimo da doença, inicialmente conhecida nos meios científicos<br />

e <strong>na</strong> imprensa como câncer gay, peste gay ou peste rosa. A homofobia a partir daí<br />

mostrou-se com enorme crueza; mas, em contraposição, a tragédia da Aids fez com<br />

que a discussão assumisse novos contornos e constituiu-se também numa motivação<br />

para que as organizações homossexuais se mobilizassem. A própria sociedade viu-se<br />

obrigada a buscar as informações necessárias para se esclarecer <strong>sobre</strong> as formas de<br />

transmissão do mal, sexo seguro e, gradualmente, cresceu no país a compreensão da<br />

importância da promoção dos direitos humanos e da solidariedade como princípios<br />

básicos do trabalho de prevenção.<br />

Segundo Regi<strong>na</strong> Facchini ( 00 ), durante a década de 80, o movimento<br />

sofreu uma dramática redução <strong>na</strong> quantidade de grupos, desarticulados ou deslocados<br />

para a construção de uma resposta coletiva à Aids, principalmente no que<br />

concernia à prevenção e assistência aos pacientes. Um dos discursos marcantes<br />

desse período foi o de que a Aids “era uma vingança da <strong>na</strong>tureza” (LINDNER,<br />

00 : 0), ou então “uma conde<strong>na</strong>ção divi<strong>na</strong> de uma sociedade que não vive conforme<br />

os mandamentos de Deus” (ibid.: 0). Portanto, a doença era tida, nessa<br />

época, como um “efeito necessário do excesso sexual, como se os limites do corpo<br />

tivessem sido testados e não tivessem passado no teste da ‘perversidade sexual’”<br />

(WEEKS, 00 : 7). Esses discursos prevaleceram <strong>na</strong> década de 80, contami<strong>na</strong>ndo<br />

e expondo a imagem social de homossexuais. E uma vez que os órgãos<br />

gover<strong>na</strong>mentais davam pouca atenção à epidemia, coube à sociedade civil o papel<br />

de protagonista <strong>na</strong> organização e criação de redes de solidariedade e apoio mútuos.<br />

O empenho do movimento homossexual brasileiro foi decisivo para conferir<br />

uma resposta não-gover<strong>na</strong>mental à epidemia de Aids, que promoveu mudanças de<br />

paradigmas <strong>na</strong>s políticas públicas de saúde no país (GALVÃO, 000).<br />

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