18.08.2013 Views

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

No entanto, o encontro com o indivíduo objetivado como “diferente” pode<br />

não desencadear mecanismos de questio<strong>na</strong>mento e desmistificação em relação às<br />

idéias preconcebidas. É possível ocorrer o contrário: o “diferente” pode continuar a<br />

ser visto e ouvido a partir de sistemas de percepção, classificação e visão de mundo<br />

que o marcam como “inferior”, “estranho”, “aberrante”, “pecador” etc. 7 Em tal cenário,<br />

a crença <strong>na</strong> sua suposta “<strong>na</strong>tureza intrínseca” tenderá a permanecer intacta ou<br />

a encontrar meios para ser reafirmada enquanto verdade indiscutível, ainda quando<br />

a conduta do “diverso” desmentir sua “bem merecida reputação”. Em casos assim,<br />

a reação etnocêntrica e heteronormativa pode ser tempestiva: “Não nos deixemos<br />

enga<strong>na</strong>r, nós sabemos como essa gente é”. (O que sabemos <strong>sobre</strong> “essa gente”? E<br />

<strong>sobre</strong> “nós”?). Neste caso, a diversidade não ensi<strong>na</strong>ria; e o nosso olhar permaneceria<br />

organizado e amesquinhado pelo senso comum, que, como diz Boaventura de Sousa<br />

Santos ( 987: ), informa sem ensi<strong>na</strong>r, ape<strong>na</strong>s persuadindo. 8<br />

O próximo passo dessa pedagogia do horror e do auto-engano seria preparar<br />

o terreno para fazer grassar a total indiferença em relação ao sofrimento em razão<br />

do processo de margi<strong>na</strong>lização a que submetemos o “outro” e os membros de seu<br />

grupo. E não surpreende que isso ocorra <strong>na</strong>s nossas roti<strong>na</strong>s escolares e produza seus<br />

efeitos, pois, como observa Elliot Aronson ( 979: 87), se pudermos nos convencer<br />

de que “um grupo não vale <strong>na</strong>da, é subumano, estúpido ou imoral, [...] podemos<br />

privá-los de uma educação decente, sem que nossos sentimentos sejam afetados”.<br />

Todavia, o convívio com a diversidade, nos moldes aqui propostos, busca favorecer<br />

o que para algumas pessoas pode comportar um certo desconforto: ela nos<br />

coloca diante de questões e situações das quais, com freqüência, preferimos nos<br />

desviar e diante das quais procuramos nos calar, ignorar e, conscientemente ou não,<br />

adotar estratégias de negação.<br />

Na perspectiva aqui adotada, o reconhecimento valorizador da diversidade<br />

pode permitir alterar esse quadro aparentemente intransponível, ao favorecer tanto<br />

a tematização do que é comumente recusado, recalcado, reprimido, deslocado,<br />

abafado e silenciado, quanto o questio<strong>na</strong>mento das razões que costumam levar a<br />

isso. Ao promover uma cultura de reconhecimento e de respeito à diversidade, ensejam-se<br />

novas formulações acerca do que também pode ser pensado e conhecido<br />

(ou ignorado), <strong>sobre</strong> novas formas de aprender e reconhecer e <strong>sobre</strong> outras possíveis<br />

127 Vide: MAZZARA, 1997: 100 e segs.<br />

128 Tal como ocorre com aquele turista ocidental que, indisposto ou desprovido de meios para estabelecer<br />

com o “outro” relações que não sejam fundadas em estratégias de domi<strong>na</strong>ção, continua a enxergá-lo como<br />

“exótico” e, ao ver supostamente confirmadas todas as idéias preconcebidas que do “outro” ele fazia, passa<br />

a desprezá-lo ulteriormente.<br />

409

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!