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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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Vale lembrar ainda que, também em virtude desse processo de construção de<br />

mentes e corpos afi<strong>na</strong>dos com tal modelo heteronormativo, se verificam a produção<br />

e a distribuição desigual social do “fracasso escolar” entre meninos e meni<strong>na</strong>s. Tais<br />

produção e distribuição apresentam nexos com as diferenças inerentes aos processos<br />

de socialização de meninos e meni<strong>na</strong>s (e, por conseguinte, de construção e hierarquização<br />

de identidades de gênero), alimentadas por estruturas curriculares e cotidianidades<br />

escolares que, por sua vez, reforçam ulteriormente ou são continuamente<br />

reforçadas por concepções heteronormativas. Assim, não por acaso, meninos e rapazes<br />

têm apresentado maiores problemas em suas situações e trajetórias educacio<strong>na</strong>is.<br />

0 Ou seja, a escola, ao discrimi<strong>na</strong>r formas não hegemônicas de masculinidades,<br />

paradoxalmente, produz maiores dificuldades no desenvolvimento de capacidades<br />

comumente entendidas como atributos femininos, tais como ler e <strong>na</strong>rrar histórias<br />

(WILSON, 004). As meni<strong>na</strong>s, por sua vez, são geralmente levadas a adotar certos<br />

tipos de condutas mais valorizadas <strong>na</strong>quela ambiência: passividade, obediência,<br />

calma, silêncio, ordem, capricho e minúcia (SILVA et al., 999) .<br />

É importante observar, no entanto, que pesquisas têm apontado que, aliada<br />

a outros fatores, a formação escolar pode contribuir para promover movimentações<br />

neste cenário. Mesmo no universo rural e em pequenos centros, verifica-se entre os<br />

rapazes que apresentam maior interesse e logram prosseguir os estudos uma tendência<br />

à incorporação de modos de agir que os afastam do centro gravitacio<strong>na</strong>l que<br />

o modelo masculino hegemônico representaria (ALMEIDA, 99 ). Isto também<br />

vale para as mulheres em ainda maior proporção. Afi<strong>na</strong>l, nota Bourdieu ( 000: 0 ),<br />

por se encontrarem “menos apegadas do que os homens [...] à condição camponesa<br />

e menos empenhadas [...] <strong>na</strong>s responsabilidades de poder”, não só se acham “menos<br />

presas pela preocupação com o patrimônio a ‘manter’”, como também acabam por<br />

se mostrar “mais dispostas em relação à educação e às promessas de mobilidade que<br />

20 CORRIGAN, 1991; WEST, 1999; ROSEMBERG, 2001: 65.<br />

21 Existem ainda outros fatores que, com freqüência, levam meninos e rapazes a apresentarem piores rendimentos<br />

escolares e a interromperem ou a abando<strong>na</strong>rem definitivamente seus estudos. Merecem menção a<br />

exploração do trabalho infantil e juvenil masculino remunerado e os fenômenos ligados à “masculinização<br />

da violência”, em que vemos <strong>sobre</strong>tudo rapazes serem atraídos para a crimi<strong>na</strong>lidade violenta, excluindo-os<br />

da escola e, não raro, prematuramente da vida. Vide, por ex.: WAISELFISZ, 2002; DOWDNEY, 2003. Para<br />

uma crítica das interpretações que vinculam, de modo mecânico e linear, o insucesso escolar das meni<strong>na</strong>s<br />

ao trabalho doméstico, vide: ROSEMBERG, 2002: 217.<br />

22 Embora minoritário, o mau rendimento escolar feminino, por outro lado, reforça o preconceito segundo o<br />

qual as mulheres não devem fazer parte dos espaços de construção do saber. A reprovação dos meninos<br />

costuma ser percebida como “coisa de moleque”, “coisa da idade”, “rebeldia”; a das meni<strong>na</strong>s, como si<strong>na</strong>l<br />

de “burrice” e “incompetência”, o que evidenciaria que elas “não dão para a coisa” e “resta-lhes ape<strong>na</strong>s<br />

o lar” (ABRAMOWICZ, 1995: 45). Além disso, não podemos esquecer que, mesmo quando as meni<strong>na</strong>s<br />

apresentam índices de desempenho escolar relativamente superiores aos de meninos, ambos continuam<br />

submetidos aos cânones heteronormativos. A construção das feminilidades e das masculinidades <strong>na</strong> escola<br />

carece de estudos mais abrangentes e aprofundados, bem como de referências mais plurais e mais<br />

sensíveis à desestabilização e à superação das desigualdades de gênero <strong>na</strong>s relações escolares (REAY,<br />

2001; CARVALHO, 2005: 271).<br />

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