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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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Nesse contexto, homens negros são em geral percebidos como “negros de<br />

verdade” se e somente se apresentarem determi<strong>na</strong>dos dotes “<strong>na</strong>turais”, “próprios da<br />

raça”, tais como: abundante virilidade – suposto atributo de uma acentuada masculinidade<br />

heterossexual 4 – e habilidade para determi<strong>na</strong>dos ritmos, danças, esportes e<br />

trabalhos. Deles se espera um igualmente “<strong>na</strong>tural” pendor à malandragem, à indolência<br />

e à arremetida sexual. 4 Da “negra de verdade” (e mais: da “mulata autêntica”),<br />

por sua vez, se espera que condiga com a imagem de mulher imoderadamente sensual,<br />

lasciva e dadivosa, de feminilidade exuberante, gingado inebriante, musicalidade<br />

envolvente e pura malícia. 44 As “orientais” (ou melhor, as nipônicas) podem se ver<br />

revestidas de uma mística sensual, enigmática, discipli<strong>na</strong>da e subserviente, que remete<br />

à gueixa e as encerra em uma trama i<strong>na</strong>pelavelmente heterossexual. Enquanto<br />

isso, as representações de “homem japonês” tendem a referir a uma masculinidade e<br />

a uma identidade sexual oscilantes entre mitos que, de um lado, produzem escárnio<br />

quanto às suas supostas proporções físicas e, de outro, encarecem sua honra, bravura<br />

e discipli<strong>na</strong>, oriundas de um atavismo samurai (cujas histórias acerca das práticas<br />

homoeróticas são acuradamente silenciadas) 4 . As “árabes” ou as “muçulma<strong>na</strong>s” (em<br />

geral tratadas como sinônimos) são aprisio<strong>na</strong>das em pólos aparentemente antagônicos:<br />

o da mulher envolta (literalmente, em algo como um foulard, uma shayla, um<br />

niqāb, um chador, uma burka...) ou o da desenvolta: uma odalisca desinibida – e,<br />

quem sabe, igualmente reclusa em um harém junto a um sem-número de esposas,<br />

todas inexoravelmente heterossexuais. 4 E assim por diante no que concerne à virilidade<br />

dos homens árabes e eslavos, 47 à licenciosidade pueril das mulheres ameríndias<br />

e à generosidade dos maridos inuit (i<strong>na</strong>dequadamente chamados de esquimós),<br />

representados com um semblante entre o infantil e o afemi<strong>na</strong>do, ofertando suas<br />

esposas aos hóspedes forasteiros (como também faziam certos ameríndios) etc. 48<br />

42 Nos anos de 1990, as ações contra a minoria branca no Zimbabwe tiveram um teor abertamente homofóbico<br />

– justificadas com base <strong>na</strong> crença de que a prática homoerótica seria estranha aos africanos e<br />

resultaria do contato com os europeus.<br />

43 A construção de masculinidades e feminilidades racializadas também implicava a subordi<strong>na</strong>ção da<br />

mulher heterossexual branca e legitimava a prática de linchamentos de massa no Sul dos EUA – com<br />

base <strong>na</strong> ameaça que os homens negros (indiscutivelmente heterossexuais) representariam para as<br />

brancas. A acusação mais comum era a de estupro ou a de sua tentativa. Vide: WARE, 2004: 286, 290;<br />

FREDRICKSON, 2002: 130.<br />

44 Vide, por ex.: CORRÊA, 1996; PINHO, 2004.<br />

45 Sobre o homoerotismo entre samurais e a erotização do gay asiático, vide respectivamente: WATANABE e<br />

IWATA, 1989 e FUNG, 1992.<br />

46 O inquietante silêncio <strong>sobre</strong> as práticas homoeróticas entre mulheres no mundo islâmico contrasta com a<br />

brutalidade das pe<strong>na</strong>s a elas ali infligidas. Vide: ILGA, 2007. Para uma ampla referência <strong>sobre</strong> a mulher no<br />

Islam, vide: PUDIOLI, 1998.<br />

47 Durante a guerra <strong>na</strong> ex-Iugoslávia, feministas de ambos os lados do Atlântico vincularam as ações de<br />

“limpezas étnicas” à “intrínseca virilidade dos eslavos”. Houve quem afirmasse existirem neles genes do<br />

estupro e da limpeza étnica. Para um confronto, vide: STIGLMAYER, 1994 e BADINTER, 2005.<br />

48 O “outro sexualizado” podemos ser nós mesmos, oficialmente estereotipados e transformados em item<br />

de exportação: “o homem e a mulher brasileira”, representados e auto-representados como seres de uma<br />

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