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Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a ...

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O risinho cria <strong>na</strong> verdade a ambiência que neutraliza a decisão<br />

de apertar o gatilho.<br />

Os diversos relatos evidenciam um mundo de terror e de violência em que<br />

as pessoas que escolhem romper com os padrões morais e estéticos, <strong>na</strong> busca de<br />

sua felicidade são submetidas às atrocidades dos preconceitos de outras viciadas<br />

em identidades pré-fixadas, crendo-se do<strong>na</strong>s de uma verdade fundada em modelos<br />

estabelecidos a priori dos modos existenciais.<br />

É interessante observar que o preconceito e a discrimi<strong>na</strong>ção não se restringem<br />

ape<strong>na</strong>s às pessoas diretamente estigmatizadas, mas também atingem aquelas<br />

que fazem parte de seu convívio. Vejamos uma ce<strong>na</strong> <strong>sobre</strong> isso. Pérola, uma travesti<br />

nordesti<strong>na</strong>, diferenciada por ter tido a oportunidade de freqüentar uma universidade<br />

e por manter relações afetivas cordiais com seus familiares primários, mora com<br />

uma irmã divorciada e dois sobrinhos: uma meni<strong>na</strong> de anos e um menino de 8.<br />

Apesar de sua estética femini<strong>na</strong>, Pérola é chamada pelos familiares no masculino e<br />

tratada pelo nome de batismo. Um dia, o sobrinho pediu à Pérola para levá-lo até a<br />

escola. Ao ali chegarem, o menino quis ser acompanhado até a sala de aula. Quando<br />

chegaram, o garoto chamou a professora e disse: “Eu não disse que meu tio tinha<br />

cabelão e peitão?”. Dias antes, a professora havia solicitado a seus alunos e alu<strong>na</strong>s<br />

que desenhassem suas famílias. O menino, então, desenhou três figuras femini<strong>na</strong>s<br />

e uma masculi<strong>na</strong>. Identificou a figura masculi<strong>na</strong> como ele e as outras três figuras<br />

femini<strong>na</strong>s como a mãe, a irmã e o “Tio Júlio”, caracterizado com cabelos longos,<br />

seios fartos e indumentária femini<strong>na</strong>.<br />

Este episódio revela quão cristalizadas se encontram as referências que as<br />

pessoas têm acerca dos gêneros. Revela ainda como uma possível alteração nos padrões<br />

de masculinidades e de feminilidades produz resistências e não-aceitação das<br />

diferenças. Ao ver o desenho do menino, a professora havia feito comentários depreciativos:<br />

disse que ele estaria “louco”, atestando o seu erro e sentenciando-o a<br />

uma pe<strong>na</strong>lidade. Antes mesmo de procurar saber e entender a situação a partir da<br />

qual o aluno se orientava para produzir o desenho, emitiu juízos de valor, julgou o<br />

seu trabalho e reiterou normas socialmente impostas e modelos preestabelecidos.<br />

Acredito que esses “incidentes” possam ser tomados como dispositivos para dialogar<br />

e problematizar <strong>sobre</strong> as diferenças e promover uma aproximação das pessoas<br />

com temáticas e modos de existencialização distantes dos seus universos particulares.<br />

Penso que o diálogo <strong>sobre</strong> as expressões das diferenças seja uma das atribuições da escola,<br />

e assim possa ela contribuir com uma formação voltada para a cidadania e a paz.<br />

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