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populacao negra

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Introdução<br />

Uma civilização que se mostra incapaz de resolver os problemas que seu<br />

funcionamento suscita é uma civilização decadente. Uma civilização que<br />

decide fechar os olhos a seus problemas cruciais é uma civilização enferma.<br />

Uma civilização que escamoteia seus princípios é uma civilização moribunda.<br />

E acho que a civilização chamada “europeia” e a civilização ocidental, tal<br />

como se configura o seu regime burguês, resulta incapaz de resolver os dois<br />

maiores problemas a que sua existência mesma deu origem: o problema do<br />

proletariado e o problema colonial. E que chamada a comparecer ante um<br />

tribunal da razão ou da consciência, esta Europa se revela impotente para<br />

justificar-se, e que à medida que passa o tempo se refugia na hipocrisia<br />

tanto mais odiosa quanto menos possibilidades tem de enganar.<br />

(Discurso sobre o colonialismo. Aimé Cesaire, 1913)<br />

Trago através deste artigo algumas reflexões a partir do processo de<br />

implantação da Política de Saúde da População Negra em Salvador (Bahia).<br />

Faço isso por acreditar que tais ações também se inserem no conjunto de<br />

atividades desenvolvidas por integrantes dos movimentos negros, no sentido<br />

de contribuirmos com a promoção de articulações para o combate ao racismo<br />

nas mais variadas frentes, inclusive na Saúde Coletiva, área que tem a equidade<br />

como princípio imprescindível ao sistema de saúde brasileiro na defesa do<br />

direito humano à saúde.<br />

Nesse processo, vejo que as ações desenvolvidas pela população <strong>negra</strong><br />

contra o racismo no Brasil se iniciaram desde que o primeiro africano pisou<br />

nestas terras, se percebendo como negro e na condição de pertencente a um<br />

povo escravizado. Essa, por si só, já foi uma condição bastante insalubre, e de<br />

lá para cá muitos foram os caminhos percorridos através da criação de variadas<br />

formas de organização de uma luta pacífica, na grande maioria das vezes,<br />

bastante coerente e significativa nos seus resultados, mas que sem dúvida<br />

tem sido uma luta que conta ainda com poucos aliados.<br />

Boa parte desse enfrentamento consiste em um processo de autorreconhecimento<br />

das diversidades do ser negro no Brasil por parte dos próprios<br />

negros, de desenvolver formas de respeito às diferenças internas e de tornar<br />

Saúde da População Negra<br />

123<br />

Ubuntu: o direito humano e a saúde da população <strong>negra</strong>

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