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populacao negra

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– a imagem que se tem desse continente, elaborada carinhosamente pelo<br />

imaginário dos deportados, via de regra, foi uma idealização. Para preservar<br />

o rico legado ancestral que nos permitiu atravessar o horror de viver<br />

em estado de escravidão racial nas Américas por mais de quatro séculos,<br />

foi necessário idealizar essa África da qual tínhamos sido arrancados para<br />

sempre. A África aparece, nessa visão, como um lugar sem tensões internas<br />

ou contradições inerentes à sua própria existência (Moore, 2008, p.11-12).<br />

Dito isso, sem dúvida, a diáspora nos fez enfrentar nossas contradições<br />

internas e nos fez olhar, a partir dos olhos do racismo, não só para os desafios<br />

externos pautados por outros grupos étnicos, mas também nos fez repensar<br />

nosso ser no mundo, nos fez entender que precisávamos construir alianças<br />

internas não mais pautadas em características culturais próximas, mas na<br />

situação de discriminação comum imposta pela cor de nossos corpos, ou seja,<br />

por nossas características fenotípicas, uma marca com a qual nos rotularam.<br />

Nesse movimento, invariavelmente temos de nos voltar para nosso passado<br />

histórico a fim de reconhecer os caminhos pelos quais se perpetuaram<br />

essa relação desigual, ao mesmo tempo em que temos de olhar para outros<br />

países da diáspora sem perder de vista a realidade atual de toda a África e<br />

tirarmos disso algum aprendizado. Nosso exercício, nesse caso, é o mesmo<br />

do pássaro Sankofa: 1 ter os pés voltados para frente e o olhar, para o passado.<br />

Sankofa é, assim, uma realização do eu, individual e coletivo. O que quer que<br />

seja que tenha sido perdido, esquecido, renunciado ou privado pode ser reclamado,<br />

reavivado, preservado ou perpetuado. Ele representa os conceitos de<br />

autoidentidade e de redefinição. Simboliza uma compreensão do destino individual<br />

e da identidade coletiva do grupo cultural. Faz parte do conhecimento<br />

dos povos africanos, expressando a busca de sabedoria em aprender com o<br />

passado para entender o presente e moldar o futuro.<br />

1 O conceito de Sankofa (Sank = voltar; fa = buscar, trazer) origina-se de um provérbio<br />

tradicional entre os povos da África Ocidental de língua Akan, ou seja, Gana, Togo e Costa do<br />

Marfim. Como um símbolo Adinkra, Sankofa pode ser representado como um pássaro mítico<br />

que voa para frente tendo a cabeça voltada para trás e carregando no seu bico um ovo, o futuro.<br />

Também se apresenta como um desenho similar ao coração ocidental. Os Ashantes de<br />

Gana usam os símbolos Adinkra para representar provérbios ou ideias filosóficas. Sankofa<br />

ensinaria a possibilidade de voltar atrás, às nossas raízes, para poder realizar nosso potencial<br />

para avançar (Nascimento, 2008, p. 31). <br />

Saúde da População Negra<br />

125<br />

Ubuntu: o direito humano e a saúde da população <strong>negra</strong>

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