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populacao negra

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e preconceito desde a infância e é mantida por toda a vida do indivíduo<br />

de descendência <strong>negra</strong>. Há nessa vivência, a construção cumulativa da<br />

negação do si mesmo no lugar de uma afirmação fidedigna e autêntica, impedindo<br />

a utilização natural e efetiva do seu processo de simbolização e do<br />

seu real potencial criativo.<br />

Por ter a sua origem na vivência constante e cumulativa de paradoxos<br />

insolúveis e patogênicos, criados pela sociocultura brasileira, a partir de atitudes<br />

de dupla mensagem, em que a população <strong>negra</strong> é empurrada a abrir mão<br />

das representações do seu si mesmo, para poder se adequar às imposições<br />

que lhe são comunicadas, ora de forma sutilmente velada, ora de forma crua e<br />

objetiva. As situações conflituais fomentadas pelo racismo são traumatizantes,<br />

pois surgem da não identificação e da intolerância com o outro, gerando a<br />

vivência “de contradições psíquicas entre ser ‘estimulado’ a viver assumindo<br />

naturalmente a sua identidade, seu si mesmo e, no entanto, não ser aceito”<br />

(Podkameni e Guimarães, 2008, p. 122).<br />

Por isso, reflitamos: para onde ecoa todo esse silêncio secularmente<br />

mantido no país que é o paraíso da mistura das raças, da suposta democracia<br />

racial que só traz benefício para alguns de seus filhos? Para Luíza, esse silêncio<br />

oriundo da situação de discriminação relatada foi o responsável pela eclosão<br />

da sua hipertensão, que se manifestou pela primeira vez imediatamente após<br />

o acontecido: “Quando eu voltei para o meu quarto, desmaiei. Fui para o hospital e<br />

chegando lá, mediram a minha pressão e verificaram que estava 18 por 10”.<br />

Se ela está correta ou não, não cabe o julgamento, visto que está em jogo<br />

a dimensão subjetiva dessa vivência que para ela foi o disparador do gatilho.<br />

Compreendemos como dimensão subjetiva, o quantun emocional presente na<br />

experiência discriminatória vivida por Luíza, o seu significado para esse campo<br />

e as suas repercussões.<br />

É possível notar, como o significado dessa vivência é expresso na sua revolta<br />

ante ao seu silêncio e ao de sua família, o que a deixa com a sensação de<br />

que algo deveria ter sido feito: “A minha mãe não falou nada, sabe o que é nada?<br />

Ficou quieta, escutando ele xingar ela, por ter defendido a mulher dele e a mulher<br />

dele também não falou nada. Ele xingou muito, xingou mais a minha mãe do que a<br />

própria mulher dele. Ninguém falou nada...”.<br />

Saúde da População Negra<br />

267<br />

Ecos do silêncio: Reflexões sobre uma vivência de racismo

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