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populacao negra

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ver-se por meio da revelação do outro. Isso nos traz uma dupla consciência,<br />

uma sensação de estar sempre a se olhar com os olhos de outros e com os<br />

seus, de medir a própria alma pela medida de um mundo que continua a mirálo<br />

com divertido desprezo e piedade. E sempre sentir essa multiplicidade, essa<br />

diversidade, essa interseccionalidade de inúmeros rótulos batendo na sua<br />

cara – brasileira, nordestina, <strong>negra</strong>, mulher, de candomblé... Vários papéis que<br />

competem em um mesmo corpo; múltiplos papéis socialmente subalternizados<br />

por sucessivas discriminações e negação de direitos.<br />

Para Du Bois, a história do Negro é a história dessa luta. No passado,<br />

segundo ele, nos dias de cativeiro, pensávamos antever um acontecimento<br />

divino pelo qual ardentemente lutamos e desejamos: a liberdade. E ninguém<br />

desejou a liberdade com metade da fé que nós, negros da diáspora, pois<br />

acreditávamos que a libertação seria a chave para uma terra prometida, sem<br />

violências. Mas a liberdade pela qual imploramos aos deuses finalmente chegou<br />

como um sonho, como um carnaval, e desde então anos se passaram e o<br />

liberto ainda não encontrou a verdadeira liberdade, a sua terra prometida, por<br />

isso continuamos a rogar aos deuses e a fazer oferendas.<br />

Portanto, paira sobre o povo negro da diáspora um desapontamento, um<br />

cansaço, um lugar ainda mais amargo, pois percebemos que o ideal alcançado<br />

é irrealizável. A solução parece ser tornarmo-nos brancos... E embora alguns<br />

acreditem que encontraram essa saída, sem dúvida, esse também é um ideal<br />

impossível de ser alcançado e vivenciado com liberdade. Nessa procura, louco<br />

pela liberdade, essa bênção parecia esquivar-se do seu alcance, e o povo negro<br />

diaspórico assistiu, sofreu e soltou seu grito que ninguém ouviu diante do<br />

holocausto das guerras, dos terrores da Ku Klux Klan, das mentiras das constituições,<br />

da desorganização dos setores trabalhistas que não absorveram<br />

adequadamente sua mão de obra, das propagandas que nunca o incluíram<br />

como consumidor, da sociedade que sempre o rotulou como um problema e<br />

nada mais restou ao antigo servo senão a contínua luta pela liberdade, solitariamente,<br />

como negro da diáspora.<br />

Mas à medida que o tempo passou, ele agarrou-se a uma nova ideia: de<br />

que talvez a liberdade pudesse ser alcançada através do voto, assim poderia<br />

aperfeiçoar a tão sonhada liberdade de ser. Posterior a essa ideia, uma nova<br />

visão começou gradualmente a substituir o sonho de poder político, um mo-<br />

Saúde da População Negra<br />

141<br />

Ubuntu: o direito humano e a saúde da população <strong>negra</strong>

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