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populacao negra

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Nesse sentido, creio que será preciso recuperar também Paulo Freire<br />

(1997) e pedir a ajuda da sua Pedagogia da Autonomia para nos fazer refletir<br />

que as relações precisam ser dialógicas e horizontais quando se deseja desconstruir<br />

a opressão, do contrário, estaremos sempre reproduzindo o mesmo<br />

modelo que tanto prejuízo já causou e ainda causa à nossa sociedade, ou simplesmente<br />

colaborando para a manutenção das mesmas relações desiguais<br />

com suas iniquidades e a manutenção dos privilégios dos mesmos grupos,<br />

podendo inclusive mudar o tom da pele, mas não as práticas opressivas.<br />

Podemos buscar ajuda também no conceito de justiça universal, Ubuntu,<br />

termo utilizado na África do Sul no pós-apartheid para representar um outro<br />

olhar sobre os direitos humanos. Ubuntu significa justiça restaurativa que não<br />

traz como objetivo simplesmente a identificação do outro, nem mesmo perceber o<br />

outro como semelhante, mas dar-lhe o respeito na diferença, admitir que a minha<br />

vida é igual à sua e que eu preciso que você vivencie a sua diferença como um direito;<br />

radicalizar no repertório dos direitos humanos compartilhados.<br />

Trata-se do reconhecimento do seu ser diverso, da sua existência, da<br />

sua identidade, do seu lugar numa sociedade comum e de que a minha paz, a<br />

minha saúde, o meu equilíbrio depende de que o outro também compartilhe e<br />

vivencie esses direitos. Isso se torna impossível sem redistribuição de renda,<br />

sem repartição dos espaços de poder, e sem combater o racismo e outras formas<br />

de discriminação em todas as esferas onde estas se apresentem.<br />

Para Severino Ngoenha, filósofo moçambicano, sem dúvida Salvador,<br />

mundo em miniatura onde uma minoria branca detém os meios de produção,<br />

os meios econômicos, e a maioria <strong>negra</strong> é miserável, pode ser um laboratório<br />

onde se experimentem as soluções propostas pelo conceito de Ubuntu, de<br />

justiça susceptível de ser globalizável; ou pode ser uma simples extensão do<br />

sistema mundial baseado na desigualdade, no qual negros e <strong>negra</strong>s como<br />

nos Estados Unidos, Jamaica ou na África do Sul, para dar alguns exemplos,<br />

passaram pura e simplesmente de escravizados a semicidadãos, tributários<br />

unicamente de deveres servis (Ngoenha, 2006, p. 5).<br />

Salvador, sem dúvida, precisa se ver no espelho e entender suas potencialidades<br />

para servir de referência para um mundo que clama pela igualdade,<br />

pelo respeito ao conhecimento técnico, aos saberes ancestrais e ao conhe-<br />

Saúde da População Negra<br />

143<br />

Ubuntu: o direito humano e a saúde da população <strong>negra</strong>

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