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populacao negra

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A fotografia da paciente L. X.<br />

(Figura 6) é também uma amostra<br />

de imagem que pode ter essa<br />

eficácia de congelar e marcar esse<br />

“outro” indesejado. No caso, a paciente<br />

apresenta um problema de<br />

visão e foi fotografada com a face<br />

puxada por diversas mãos, que<br />

fazem pular ainda mais as órbitas<br />

de seus olhos doentes, o que resultou numa imagem um tanto quanto assustadora.<br />

Na ficha da paciente consta: “preta, brasileira, mineira, lavadeira, tendo<br />

aproximadamente 25 anos, [...] endereçada pelo Dr. Diogenes Magalhães,<br />

provecto cirurgião da Casa de Saúde São Luiz de Uberlândia, um dos mais<br />

perfeitos mestres da cirurgia que conhecemos no interior”. Ao associarmos<br />

a fotografia ao texto escrito, que numa mesma frase mostra o contraste entre<br />

as qualidades profissionais do médico e as características sociais e físicas da<br />

paciente, temos a construção de imaginário sobre um corpo que destoaria das<br />

concepções vinculadas às ideias de modernidade e civilização, possuindo, assim,<br />

grande potencial de estigmatização2 Figura 6. BM, 1943, p. 81<br />

.<br />

Portanto, a visibilidade dos corpos negros em situação de doença e vulnerabilidade<br />

mostrada no BM relacionava-se com as concepções científicas e<br />

cotidianas sobre um grupo social, que seria marcado pela herança de escravidão<br />

e de discriminação inscritas na aparência.<br />

Imagens como a da Figura 7, que historicamente se vincularia à ideia de<br />

anormalidade e degeneração, foram importantes para a permanência de um<br />

racismo que perceberia o negro como naturalmente propenso a uma “infrahumanidade”<br />

(Gilroy, 2007). Ideias que se complementam com a ficha do pa-<br />

2 O termo estigma foi criado pelos gregos, que o teriam definido como sinais corporais<br />

que evidenciavam “alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral daqueles que<br />

os apresentavam”. Eram “feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era<br />

um escravo, um criminoso ou traidor, uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia<br />

ser evitada; especialmente em lugares públicos” (Goffman, 1988, p. 5). Embora estigma na<br />

atualidade tenha outras definições, a associação que os gregos fizeram com os aspectos<br />

visuais do termo permanece como forma de classificar uma pessoa que ao primeiro contato<br />

é vista como incomum ou diferente.<br />

Saúde da População Negra<br />

255<br />

A construção da raça nacional: Estratégicas<br />

eugênicas em torno do corpo da mulher

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