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populacao negra

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coletivo. Era uma tarde de verão, um senhor pediu a um vendedor ambulante<br />

negro uma cerveja e ele não vendeu por não ter o troco suficiente. Após a negativa<br />

do vendedor, esse senhor que também deve ser discriminado por ser de<br />

origem nordestina, contudo salvo pela pele branca, verbalizou em alto e bom<br />

tom: “Preto não serve para nada, porque preto fede, rouba e faz macumba”.<br />

Apoiando-nos nesses exemplos, identificamos que a nossa sociedade<br />

não oferece às pessoas de cor preta e parda uma identificação fidedigna.<br />

Segundo Donald Woods Winnicot (1988), o meio ambiente tem um papel<br />

fundamental no desenvolvimento do potencial humano e da criatividade. Guimarães<br />

(1998) destaca que, para Winnicot, a presença de um meio ambiente<br />

bom o bastante é essencial para o desenvolvimento de um campo imaginário<br />

denominado por ele de “área de ilusão” e de “espaço potencial”, o qual funciona<br />

como um campo de “mediação, de transição, entre aquilo que o indivíduo<br />

necessita, deseja e aquilo que pode obter em função das possibilidades e limites<br />

que a vida e a cultura apresentam” (Guimarães, 1998, p. 18).<br />

Esse campo imaginário que se inicia na relação com o ambiente familiar<br />

continua como um importante elemento de mediação psíquica e encontra nos<br />

processos da cultura a continuidade do acolhimento oferecido inicialmente,<br />

exercendo a sociocultura um papel fundamental na manutenção e retroalimentação<br />

desse campo.<br />

Contudo, Podkameni e Guimarães (2004) evidenciam que o indivíduo<br />

negro ao sair de seu núcleo familiar primário constituinte e alimentador do<br />

espaço potencial e ao se defrontar com a sociocultura tem o processo de<br />

desenvolvimento, manutenção e amadurecimento desse campo impedido<br />

de realizar seus reais potenciais, em função da discriminação, do racismo e<br />

do ataque à suas características fenotípicas. Para esses autores, essas condições<br />

adversas provocam uma dor psíquica, que por ter sido historicamente<br />

silenciada, negada, banalizada e naturalizada, tem o seu risco social, psíquico,<br />

psicossomático e até físico esvaziado.<br />

Isso posto, é importante destacar que a perversidade do plano racial<br />

fundador e existente há séculos em nosso país ultrapassa uma mera questão<br />

de classe. Por isso, ressaltamos a condição subalterna do agressor<br />

branco, o qual “mesmo em situação de pobreza, [...] tem o privilégio sim-<br />

Saúde da População Negra<br />

265<br />

Ecos do silêncio: Reflexões sobre uma vivência de racismo

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