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populacao negra

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Introdução<br />

O racismo que existe,<br />

o racismo que não existe.<br />

O sim que é não,<br />

o não que é sim.<br />

É assim o Brasil<br />

ou não?<br />

(Oliveira Silveira)<br />

A vivência de discriminação racial encontra na sociedade brasileira um<br />

grande desafio que é poder expressar genuinamente a sua indignação. A<br />

despeito de este ser um país que preconiza a falácia do paraíso da democracia<br />

racial, esse fato é facilmente desmascarado ao evidenciarmos as condições de<br />

viver, nascer e morrer da população <strong>negra</strong>. Por conseguinte, nesse cenário, verificamos<br />

que “apesar do racismo persistente, raramente os atores sociais se<br />

admitem racistas e, ao mesmo tempo, são poucos os que revelam terem sido<br />

vítimas de discriminação” (Santos, 2011, p. 152).<br />

Soma-se a esse contexto, a desfavorável realidade socioeconômica à<br />

qual grande parte dessa população está inserida. Seyferth (2002, p. 41) afirma<br />

que “a desigualdade concedida como beneplácito é a própria essência do<br />

racismo”. Por isso, é inevitável afirmar que a experiência de discriminações e<br />

de desigualdades raciais e econômicas terá o seu quantun de repercussão no<br />

processo saúde/doença das pessoas <strong>negra</strong>s. Este artigo tem, portanto, o objetivo<br />

de apresentar reflexões a partir de uma vivência de discriminação sofrida<br />

por uma mulher <strong>negra</strong> e o prejuízo causado à sua saúde. Passemos ao relato.<br />

“Uma noite estávamos eu, minha mãe e meu marido, sentados aí debaixo dessa<br />

árvore, o vizinho da frente começou a bater na mulher dele, e a minha mãe, que<br />

participa do Deam [Delegacia de Apoio à Mulher], foi falar com ele. Ele xingou<br />

a minha mãe de tudo quanto era nome, chamou de <strong>negra</strong>, de macaca, de não sei<br />

o quê, de tudo quanto foi nome. A minha mãe não falou nada, sabe o que é nada?<br />

Ficou quieta, escutando ele xingar ela, por ter defendido a mulher dele e a mulher<br />

dele também não falou nada. Ele xingou muito, xingou mais a minha mãe do<br />

que a própria mulher dele. Ninguém falou nada... mas ele xingou muito, xingou,<br />

xingou, mas assim tudo, como é que eu vou dizer? Se a minha mãe fosse dar parte<br />

Saúde da População Negra<br />

263<br />

Ecos do silêncio: Reflexões sobre uma vivência de racismo

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