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populacao negra

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Na continuidade da entrevista, entendemos ainda mais o motivo de tanta<br />

angústia por parte de Luíza, que conta que havia sido desrespeitada da mesma<br />

forma que sua mãe quando trabalhava em uma loja no shopping localizado em<br />

bairro nobre carioca. Era uma época de liquidação e ela, por ordens superiores,<br />

não deixou que uma cliente entrasse já que havia uma fila de espera. A cliente<br />

insatisfeita disse que “esse era o problema de empregar gente preta, porque<br />

esse tipo de gente não tem capacidade”. Luíza teve a intenção de responder<br />

aos insultos, mas foi impedida pela gerente da loja, que se desculpou com a<br />

cliente e, em seguida, permitiu a sua entrada na loja dando aquiescência a sua<br />

rude e irracional atitude. Depois disso, Luíza pediu demissão da loja.<br />

O silêncio alienado diante das questões raciais e do racismo deixa entrever<br />

o quanto a naturalização de fatos que não são naturais acabam por “minar”<br />

os seres humanos, cuja condição de existência fica amplamente vulnerável<br />

devido a uma contínua realimentação do trauma. Com esse relato, evidenciamos<br />

como o racismo é uma ideologia que possui várias facetas, ora sendo<br />

explícita, ora sendo sutil, camuflada, mas sendo sempre uma forte estratégia<br />

causadora de sofrimento psíquico e de destituição de direitos de cidadania<br />

para os que sofrem com ele.<br />

O sofrimento psíquico é caracterizado, na maioria das vezes, pela invisibilidade<br />

e individualidade por se processar internamente, é um tipo de sofrimento<br />

que em muitos casos não encontra eco, identificação. Quando tratamos de um<br />

sofrimento psíquico que se origina em um fato histórico banalizado e naturalizado<br />

que é o racismo, temos uma construção altamente deletéria. Como já apontamos,<br />

a sociedade em que vivemos não admite verdadeiramente o racismo como parte<br />

integrante da sua espinha dorsal. Esse mal sempre habita no outro e nunca em si<br />

mesmo e a importância da sua reflexão é sempre erroneamente ou quem sabe<br />

estrategicamente vinculada às questões de classe. Como refletir e cuidar de<br />

algo que não existe? Como lidar com esse paradoxo insolúvel? A perversidade<br />

existente nesse processo está justamente em se invisibilizar o que está clara e limpidamente<br />

visibilizado, mas não verbalizado, não admitido, não permitindo, deste<br />

modo, a cura e a elaboração do trauma.<br />

É um sentido cotidiano gerador de tensões, angústias e amarguras que,<br />

por não encontrar campo para ser devidamente elaborado, não pode ser escoado,<br />

dissipado. Resultado: vivo, sinto, sofro, mas o outro diz o contrário ou

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