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populacao negra

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Do mesmo modo, devemos atentar para a identificação da continuidade<br />

da própria mentalidade surgida de práticas baseadas numa relação desigual,<br />

estabelecidas pelo racismo, comprometidas com interesses exógenos e a despeito<br />

dos interesses dos próprios negros. Um exemplo dessa reflexão, segundo<br />

Carlos Moore (2008), pode ser observado na história de Amadou Hampâté<br />

Bá, descrita no livro Amkoullel, o menino Fula (2003), no qual narra como<br />

a colonização francesa criou artificialmente as novas elites subservientes<br />

africanas de hoje. Para Moore, enquanto Hampâté Bá narra a própria história<br />

sobre a colonização – como cresceu dentro de uma família africana tradicional<br />

e como se converteu, progressivamente, em funcionário público a serviço do<br />

ocupante colonial –, ele nos dá uma ideia precisa de como se deu esse processo<br />

em que potências europeias criaram uma nova elite de traidores natos, elite<br />

à qual entregariam o poder em 1960, a raiz de um processo bem orquestrado<br />

chamado de descolonização.<br />

Mas, nesse ano, a maioria dos países do continente africano “recebeu”<br />

sua independência política, sendo o controle de suas sociedades repassado<br />

pelo antigo colonizador para as elites africanas, que, na sua grande maioria,<br />

surgiram das escolas coloniais. Esse processo é muito parecido com o da<br />

nossa “independência”. Retrata uma prática que também é fruto do racismo<br />

e sobre a qual precisamos refletir quanto aos riscos que os espaços de poder<br />

no Brasil, majoritariamente ocupado pelos brancos, nos impõem quando estamos<br />

diante do exercício dos ritos desse poder.<br />

Ou seja, precisamos estar atentos diante da tarefa que temos de construir<br />

juntos, com diversos segmentos da sociedade brasileira, outro modelo de sociedade.<br />

Mas não podemos nos perder nesse caminho, e para isso temos de<br />

buscar referenciais que nos façam acreditar e afirmar, ideais humanizadores em<br />

harmonia com todos os elementos da natureza, enquanto seres integrantes dessa<br />

mesma natureza, como preconizam as religiões de matriz africana, ideais que se<br />

pautem em direitos humanos compartilhados por todos (Ubuntu). No processo<br />

de construção da Política de Saúde da População Negra, por exemplo, muitas são<br />

as situações em que precisamos invocar tais ideais para acreditarmos simplesmente<br />

que será possível continuar a lutar sem nos perder.<br />

O presente artigo tem o objetivo de contribuir com as reflexões obtidas a<br />

partir do processo de implantação da Política de Saúde da População Negra de

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