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populacao negra

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No relato acima, a ideia de mestiçagem mistura-se à ideia de negritude,<br />

que acaba por reforçar um ideal de igualdade. Argumenta-se que, se somos<br />

todos iguais – “somos todos negros” ou “somos todos mestiços” – não podemos<br />

ser tratados como diferentes pelas políticas públicas. Dentre outros aspectos,<br />

a referida fala revela uma representação recorrente no grupo estudado<br />

de que somos um estado composto por indivíduos iguais, onde as relações<br />

raciais são, por consequência, cordiais.<br />

Uma usuária, mãe de uma menina com anemia falciforme, justificou sua<br />

discordância diante da existência de uma política de saúde da população <strong>negra</strong><br />

nos seguintes termos: “eu queria que o mesmo tratamento que fosse para os<br />

brancos, fosse para os negros”. Entretanto, na mesma fala, ela reconhece a existência<br />

do racismo no Brasil: “mas tem o racismo ainda no mundo, não acabou, por<br />

mais que tenha... que vai preso, que vai isso que vai aquilo, mas não acabou ainda,<br />

ainda existe”.<br />

É importante ressaltar que muitos usuários abordados não tinham<br />

qualquer tipo de informação sobre a existência da PNSIPN. Ainda assim,<br />

mesmo que não tenha sido unânime, diferentemente dos profissionais de<br />

saúde abordados, a maioria se posicionou a favor da existência de políticas<br />

com o propósito de garantir igualdade. Podemos verificar a presença dessa<br />

ideia na fala de uma usuária do 3º Centro, com diabetes: “Eu não tenho<br />

conhecimento de algum [da política de saúde da população <strong>negra</strong>], mas [...] eu<br />

penso que seja bom. [...] porque eu acho que não devia ter essa [...] divisão [...]<br />

Todos são ser humano” (US).<br />

Políticas afirmativas em outras áreas, como na educação, também foram<br />

alvo de debates nos GFs, a exemplo das cotas nas universidades. Também<br />

nesse caso, as posições se polarizavam. Quando uma das enfermeiras afirmou<br />

ser “terminantemente contra as cotas”, logo outra replicou: “mas existe uma dívida<br />

social do governo com a população carente que tem que ser paga”. Mas o argumento<br />

não sensibilizou sua colega, que respondeu: “eu não sei nem o que é isso”.<br />

No GF com jovens, o debate também emergiu quando um deles indagou: “Por<br />

que tudo é sempre para os negros? Não sei o quê para os negros... Por que não para<br />

os brancos? Por que não pra todos?”. Indignada, outra jovem respondeu: “Entenda,<br />

porque aqui no Brasil a população é <strong>negra</strong>, a população é maior então tem que<br />

fazer, porque se não fizer vai ser discriminado”.<br />

Saúde da População Negra<br />

191<br />

Percepção sobre a política de saúde da<br />

população <strong>negra</strong>: Perspectivas polifônicas

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