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populacao negra

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vimento forte, a ascensão de outro ideal a orientar os desnorteados: o ideal<br />

da “sabedoria dos livros”; a curiosidade, nascida da ignorância compulsória,<br />

de conhecer e testar o poder das letras cabalísticas dos homens brancos,<br />

o anseio de saber. Nesse caminho, a frieza dos dados estatísticos registrou<br />

seus avanços polegada por polegada, mas o negro da diáspora lutou sozinho<br />

também pelas políticas afirmativas na educação, na saúde, no acesso à terra, à<br />

alimentação, tudo isso no seu anseio de inclusão para alcançar a liberdade de<br />

ser um ser no mundo forjado pelos brancos.<br />

De repente, o negro da diáspora começou a ter um vago sentimento de<br />

que para conseguir seu lugar ao sol teria de ser ele mesmo, e que jamais alcançaria<br />

a imagem projetada pelo outro. Pela primeira vez, procurou analisar<br />

o fardo que trazia às costas, sentiu sua pobreza, sem um centavo, sem lar, sem<br />

terra, sem ferramentas ou economias. Assim, entrou nessa luta por direitos e<br />

cidadania totalmente desarmado, sem recursos e só.<br />

Para Du Bois, a um povo assim tão prejudicado não se deveria pedir que<br />

competisse com o mundo, mas permitir-lhe que dispusesse de todo o tempo<br />

e energia mental para tratar dos seus problemas sociais, para se reconstituir<br />

como povo e depois poder se dizer perante o outro.<br />

Du Bois acreditava que todos esses ideais deveriam ser derretidos e fundidos<br />

em um só. Da instrução das escolas, do treinamento das mãos aptas,<br />

de olhos e ouvidos mais apurados e, sobretudo, da cultura mais ampla, mais<br />

profunda. Quanto ao poder do voto, ele dizia que necessitávamos dele somente<br />

por uma questão de autodefesa – de outro modo, o que nos salvaria de uma<br />

segunda escravidão?<br />

Mas para ele essa capacidade de reunir tais ideais poderia ser unificada<br />

pelo ideal da “raça”. No meu entender, não pelo que a ideia de “raça” traz de<br />

diferenças biológicas, mas pelo ideário unificador imposto por esse rótulo e a<br />

nós imputado pelos racistas, mas que os movimentos negros reinterpretaram<br />

afirmativamente, tratando-o como algo positivo. Pertencer à “raça <strong>negra</strong>”<br />

tornou-se a releitura de um lugar, uma postura política, que afirma as especificidades<br />

de um povo diverso, ao mesmo tempo que busca devolver-nos a liberdade<br />

de sermos o que quisermos ser diante das nossas diferenças humanas e<br />

do direito humano de sermos negros e <strong>negra</strong>s.

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