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populacao negra

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Sobre essa imagem, se fosse desconhecido o contexto, não seria difícil vê-la<br />

como a fotografia de uma pessoa morta. O fotógrafo captou as lesões no rosto<br />

e abaixo do pescoço da paciente, que se encontra em posição frontal, imóvel e<br />

encostada a uma parede, onde é projetada sua sombra. Seu colo nu está à mostra.<br />

Seus olhos estão fechados. De todas as fotografias pesquisadas, essa é a única<br />

ocasião em que encontramos uma pessoa de olhos que se fecharam para a câmera.<br />

Podemos especular sobre a causa de isso ter acontecido. Seria orientação<br />

do fotógrafo ou do médico? Vergonha de sua posição como prostituta? Ou não<br />

concordaria com a situação de exposição, reagindo com o fechar dos olhos?<br />

Essa imagem intrigante (Figura 1), com a descrição da vida pregressa da paciente,<br />

faz pensar numa antítese do modelo de mulher ideal que serviria ao progresso do<br />

país, por não apresentar a possibilidade de uma procriação boa e normal, ou seja, a<br />

mulher/menina da foto parece estar morta para um futuro que não lhe cabia.<br />

Em outro texto do BM, de autoria de seus editores, demonstra-se de maneira<br />

clara como os cuidados com a infância e a maternidade eram vistos como exclusividade<br />

de uma parcela privilegiada da população. Intitulado “Proteção à infância<br />

no Brasil”, publicado em 1940, esse texto contém um comentário sobre a inauguração<br />

do serviço de Pediatria da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que, segundo<br />

os autores, não seria “exclusivamente destinado aos filhos da pobreza miserável,<br />

isto é, aos desfavorecidos das favelas e barracões dos terrenos baldios”:<br />

Renato Kehl, em magnifico estudo sobre os “parasitas sociaes […]<br />

mostra, com argumentos irrefragaveis, que esses parasitas, criança e<br />

adultos, são valores definitivamente perdidos para a Sociedade, porque<br />

oriundos de fontes definitivamente condemnadas pelas leis da Eugenia.<br />

E sendo assim, será preciso comprehender os serviços de protecção à<br />

infancia o de proteção à maternidade e com elle o da implantação, nas<br />

mulheres destinadas à parturição, das precauções a serem por ellas tomadas<br />

com o fim de gerarem productos aproveitaveis à Sociedade e não<br />

candidatos ao parasitismo de todas as categorias – gatunos, vagabundos,<br />

impulsivos, criminosos e outros (BM, 1930, p.189) 1 .<br />

1 Os artigos sem assinatura publicados na seção “Commentarios” constituem matéria<br />

de autoria da redação (BM, 1930).

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